quinta-feira, 15 de janeiro de 2009


Drogas afectam personalidade e funções cognitivas



O consumo crónico de estupefacientes, mesmo de drogas leves, provoca alterações permanentes de personalidade e deterioração das funções cognitivas, segundo estudos desenvolvidos na Universidade da Beira Interior (UBI).

A equipa, liderada pelo professor de Neuropsicologia Luís Maia, constatou que consumidores crónicos de drogas manifestam alterações de personalidade que os tornam mais irresponsáveis, mais irritáveis, impulsivos, egocêntricos e com tendência para cometer actos ilícitos, violência familiar e comportamentos de risco.

No que diz respeito às funções básicas da mente, como a memória, atenção, concentração, os dados são ainda preliminares, mas remetem para um "forte indicador de prejuízo funcional nas capacidades intelectuais de toxicodependentes crónicos".

As alterações ao nível da personalidade podem ser verificadas ao fim de três a quatro anos de consumo, no caso dos adolescentes em "franco desenvolvimento", ou mais tempo, no caso dos adultos com "características personalísticas já bem marcadas" e que iniciem o consumo de substâncias numa fase já adulta.

No entanto, a deterioração cognitiva pode ser evidenciada logo numa fase inicial de consumo, principalmente se o tipo de substâncias estiver dentro da classe das psicodislépticas, ou seja, "capazes de produzir processos psíquicos como a desrealização, depersonalização, problemas de memória e atenção ou concentração, delírios e alucinações, entre outras". Estão dentro desta classe o MDMA, vulgo ecstasy, o LSD, a heroína e a cocaína.

O início dos efeitos sobre as funções cognitivas depende ainda do tipo de consumo, "se ligeiro (poucas doses e em pequenas concentrações das substâncias) e de forma intermitente ou pesado (grandes quantidades e de forma contínua)", explicou Luís Maia à agência Lusa.

Efeitos nefastos das drogas

Para o professor do departamento de Psicologia e Educação da UBI, é claro que "todas as drogas provocam um efeito nefasto sobre o cérebro e a mente humana". Mesmo as chamadas "drogas leves", como canabis, haxixe, ácidos, MDMA, entre outras.


"Se no debate sobre a despenalização das chamadas drogas leves e se nos programas de informação aos jovens todos estes dados fossem passados de forma clara e inequívoca, talvez as opiniões acerca de medidas de redução de risco como as Salas de Consumo Assistido, não fossem, por vezes, tão banalmente discutidas", considera. Segundo o professor, estes resultados estão já largamente provados no consumo "pesado" de bebidas alcoólicas - entendido como a ingestão durante anos de vários litros de vinho, cerveja ou bebidas destiladas -, e foi a partir deste pressuposto que o estudo sobre os estupefacientes se desenvolveu. Mas habitualmente "não se aceitam tão facilmente que estas alterações possam estar tão presentes no consumo de drogas", refere o professor, que justifica a difícil aceitação com "questões mais filosóficas liberais de diferenciação das drogas leves e pesadas".

Os consumidores crónicos de bebidas alcoólicas apresentam alterações marcadas das funções cognitivas, desenvolvendo, por exemplo, doenças como demência alcoólica, que impede a pessoa de ter qualquer nova memória de qualquer novo evento.

Incapacidade de reconhecer

Um dos pacientes com este tipo de doença esteve a falar um par de horas com uma pessoa que lhe foi apresentada na ocasião, mas foi incapaz de a reconhecer quando saiu da sala por cinco minutos. "Quando a pessoa regressou, ao fim de cinco minutos, o paciente foi incapaz de a reconhecer e lidou com ela como se nunca a tivesse visto", contou o professor.

"O que os nossos estudos têm vindo a demonstrar é que, a exemplo do que ocorre com as bebidas alcoólicas, verificam-se fortes alterações personalísticas em consumidores crónicos de estupefacientes", afirmou. O consumo crónico é considerado pelos investigadores como superior a um período de 12 meses, sem intermitência.

O estudo mais recente, realizado entre Outubro de 2007 e Julho de 2008, comparou 38 sujeitos, dos quais 19 consumidores de drogas e utilizadores de um serviço de tratamento de toxicodependentes estatal e não consumidores, de ambos os sexos, da região de Viseu.

Fonte da notícia: cienciahoje.pt

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