terça-feira, 31 de agosto de 2010

Porque é que os peixes não congelam no Árctico

A Natureza está sempre a surpreender-nos...


Imagem do peixe Macropteris maculatus e da estrutura da proteína anticongelante (Credit: Konrad Meister)
Investigadores da Universidade de Bochum-Ruhr (RUB), na Alemanha, descobriram como é que os peixes do Oceano Árctico conseguem a proeza de não ficarem congelados - possuem um anticongelante natural que funciona de forma a evitar que congelem até à morte, nas águas geladas. O estudo liderado por Martina Havenith vem publicado no «Journal of American Chemical Society».

Como funciona?
As águas do Oceano Ártico não costumam variar além dos 0°C, e o ponto de congelamento do sangue dos peixes é de 0.9 °C. Portanto, se não existisse um sistema anticongelante, os peixes morreriam. No sangue do peixe encontra-se uma proteína anticongelante (AFP - Antifreeze Protein), esta, afecta as moléculas da água, em redor do seu corpo, de modo a que permaneça fluida. Não existe nenhuma ligação química entre a proteína e água – a mera presença da primeira é suficiente.
Há pelo menos 50 anos, que estas proteínas foram encontradas no sangue destes animais e funcionam melhor do que qualquer anticongelante doméstico; no entanto, a forma como agem é que ainda não estava clara.

A equipa de investigação recorreu a uma técnica especial – a espectroscopia de terahertz –, para desvendar o mecanismo subjacente a este efeito. Com a radiação terahertz, o movimento colectivo das moléculas de água e proteínas podem ser gravadas. Desta forma, é possível mostrar uma espécie de dança permanente das moléculas (em água líquida), e, posteriormente, como é que vão introduzindo novos efeitos mais ordenados, na presença das proteínas. Inicialmente, “parece uma dança de discoteca que se transforma num minuete [dança em compasso]”, refere Havenith.

Os objectos das investigações em curso foram as glicoproteínas anticongelantes de uma marlonga (Dissostichus mawsoni), pescada durante uma expedição à Antárctida pelo norte-americano Arthur L. Devries, um dos parceiros do estudo. “Verificamos que a proteína tem um efeito especial de longo alcance sobre as moléculas de água em torno delas. É uma espécie de dinâmica camada de hidratação prolongada", acrescenta o co-autor Konrad Meister.

Segundo Martina Havenith, “o efeito que impede a cristalização do gelo, é ainda mais pronunciado em baixas temperaturas do que à temperatura ambiente”. Contudo, para congelar a água seria necessário que estivessem bastante baixas. Através da ‘complexação da AFP’ por borato reduziram fortemente a actividade anticongelante. Neste caso, também não encontraram nenhuma alteração na dança terahertz.

Os resultados fornecem evidências de como um novo modelo de glicoproteínas pode evitar que a água congele. Ou seja, a actividade anticongelante não é conseguida através de uma única ligação molecular entre a proteína e água, mas porque a AFP perturba o solvente aquoso a longas distâncias. O estudo demonstrou, pela primeira vez, uma relação directa entre a função de uma proteína e sua assinatura na faixa de terahertz.
Fonte da notícia:

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ver o Mundo com outros Olhos

Córneas biossintéticas são testadas com sucesso em pacientes com visão ameaçada. O avanço pode ser o caminho para atender à enorme procura por doações de córnea, que deixa cerca de 10 milhões de pessoas sem tratamento por ano.

A córnea é a camada superficial transparente que age como uma janela refratora para o globo ocular, ajudando a ajustar o foco. Lesões e doenças na membrana são a segunda causa de cegueira no mundo (foto:Michele Catania ).
Depois das cataratas, lesões e doenças que atingem a córnea são a segunda maior causa de cegueira no mundo. Por mais de um século, a solução para remediar esse mal tem sido o transplante da córnea de doadores humanos. A procura, porém, é muito maior que a oferta. Dos 10 milhões de pacientes que permanecem na fila de espera, cerca de 1,5 milhão tornam-se novos casos de cegueira em cada ano.

Mas um trabalho publicado esta semana por cientistas suecos e canadenses na Science Translational Medicine pode pôr fim a esse cenário sombrio. O artigo apresenta os resultados bem-sucedidos de testes clínicos para implantar córneas biossintéticas em 10 pacientes com lesões graves na membrana, induzindo a sua regeneração.

“O estudo é o primeiro a mostrar que uma córnea artificialmente fabricada pode integrar-se no olho humano e estimular a sua regeneração”, afirma May Griffith, da Universidade de Ottawa, no Canadá, e da Universidade de Linköping, da Suécia.

Os voluntários, todos suecos, foram submetidos a cirurgias para remover a membrana danificada de um olho e substituí-la pela versão sintética.

Ao longo dos dois anos seguintes, os médicos acompanharam o progresso e verificaram que os implantes foram incorporados pelo organismo, com a regeneração de células epiteliais e nervos da córnea em torno da membrana artificial.

A sensibilidade dos olhos foi gradualmente restituída, assim como a capacidade de produzir lágrimas, essencial para lubrificar e assim oxigenar a córnea – que não é irrigada por sangue para preservar sua transparência.

A córnea é uma camada de colágeno e células que age como uma janela para o globo ocular. É o principal elemento refrativo do aparelho visual, ajudando a ajustar o foco, e precisa ser completamente transparente para permitir a entrada de luz. Diversas situações podem prejudicar essa função, como o tracoma – a principal origem infecciosa de cegueira, causada por uma bactéria –, úlceras e traumatismos.

Na pesquisa, nove dos pacientes tinham ceratocone avançado (uma doença que modifica o formato da córnea) e um tinha uma infecção na membrana. Em seis deles, a visão a olho nu melhorou após a cirurgia.

Para os restantes, o uso de lentes de contacto fez o que faltava: permitiu que vissem tão bem quanto pacientes que haviam sido submetidos a transplante de córnea humana, também com lentes. E mais: permitiu o uso de lentes de contacto o que não acontecia antes da cirurgia, nenhum deles podia usar lentes de contato, apresentando intolerância ao uso prolongado.

May Griffith exibe a córnea biossintética que foi implantada no olho de dez pacientes para restaurar a visão (foto: Ottawa Hospital Research Institute).

O ingrediente-chave para o sucesso da pesquisa foi o desenvolvimento de uma córnea artificial usando colágeno humano recombinante – sintetizado em laboratório a partir de DNA humano. “Células de levedura foram manipuladas geneticamente para conter o DNA do colágeno”, explica May Griffith à CH On-line.

“A proteína do colágeno foi então produzida no laboratório em grandes quantidades, purificada e testada para garantir segurança no uso humano”, explica a investigadora. O material, desenvolvido pela empresa Fibrogen, na Califórnia (EUA), foi então moldado para ganhar o formato da córnea.

Nenhum dos pacientes apresentou rejeição ao material. O uso do material artificial apresentou diversas vantagens em relação aos transplantes de córneas de doadores. De acordo com a pesquisa, nenhum dos pacientes apresentou rejeição ao material, e em nenhum dos casos foi preciso suprimir a resposta imunológica dos indivíduos (técnica que pode ser usada em transplantes para evitar que o sistema imune do corpo rejeite o novo tecido implantado).

Além disso, o uso de córneas biossintéticas não traz o risco de transmissão de doenças que existe quando se usa o tecido de um doador. A prevenção desse risco, aliás, é uma das etapas que mais encarece o transplante, explica Griffith.

No futuro, com córneas feitas por humanos, a fabricação poderia feita em grande escala e os custos que no momento são elevadíssimos seriam menores”.

De acordo com Griffith, o objetivo não era substituir o uso de tecido humano, e sim desenvolver uma alternativa para responder à elevada necessidade. “Claro que no futuro esperamos chegar a modelos que funcionarão ainda melhor que o tecido humano. Até lá, será preciso realizar muita pesquisa e testar um número bem maior de pacientes”, pondera.

Griffith e sua equipa começaram a desenvolver córneas biossintéticas há mais de dez anos. Só depois de muitos testes em laboratório, e alguns em animais, é que foi dado o passo de testar o material em pessoas.

“Agora temos que testar as córneas em um maior número de pacientes, aplicadas a um espectro mais amplo de condições”“Ao longo desses dez anos, desenvolvemos vários tipos de biomateriais, inclusive a próxima geração de córneas biossintéticas que será usada na próxima fase de estudos”, refere.

Para Griffith, os resultados são “muito animadores” e indicam que as pesquisas em medicina regenerativa são um caminho certo para tratar problemas na córnea. “Agora temos que testar as córneas biossintéticas em um maior número de pacientes, aplicadas a um espectro mais amplo de condições que exigem o transplante”, explica.

Na próxima fase, os testes serão feitos com a versão aprimorada da córnea artificial. “Com esse material mais forte e as aprendizagens da primeira fase, esperamos aprimorar ainda mais a visão dos próximos pacientes que receberem os implantes”, diz.
Notícia lida em cienciahoje.uol.com.br e em
http://stm.sciencemag.org/content/2/46/46ra61.abstract

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A nossa Lua está a diminuir e a "ficar com rugas"

Estão a passar-se coisas estranhas na nossa lua. Ela está a diminuir e a ficar com "rugas"
Segundo um estudo publicado na revista “Science”, a Lua está “encolhendo como uma maçã velha”. As imagens mostram que a circunferência da superficie lunar contraiu pelo menos 100 metros, nos ultimos mil milhões de anos e está “ganhando rugas”. Esta foi a primeira vez que cientistas verificaram as modificações, atribuídas ao seu resfriamento interno.

Imagens mostram falhas na superfície lunar (NASA/Goddard/Arizona State University/Smithsonian)

As fotografias foram realizadas pela Sonda de Reconhecimento Lunar (LRO), da Nasa, que orbitou o satélite da Terra em junho de 2009. O principal autor do trabalho, Thomas Watters, do Museu Nacional do Ar e do Espaço, disse que as imagens de alta resolução feitas pela LRO vão “revolucionar a nossa percepção sobre a Lua”.

As imagens revelaram 14 novas escarpas lobulares — pequenas formações que, até agora, acreditava-se terem sido originadas por falhas tectónicas. São as mais jovens formações do satélite e, de acordo com Watters, provavelmente estão presentes em toda a Lua. A análise sugere que as escarpas se formaram durante um período de contracção, quando a Lua congelou e encolheu. (…)”
Ainda não se sabe, porém, os efeitos que o encolhimento pode causar.

As escarpas fotografadas são falhas geológicas de compressão, que ocorrem principalmente no planalto lunar. Elas foram primeiramente observadas em fotografias tiradas perto do equador da Lua pelas câmeras panorâmicas das naves Apollo 15, 16 e 17.

Mark Robinson, da Universidade do Arizona e coautor do estudo afirmou: "Nós não só detectamos várias escarpas lunares até agora desconhecidas, como ainda descobrimos muito mais detalhes das escarpas identificadas nas fotografias da Apollo."

As catorze escarpas anteriormente desconhecidas e agora reveladas indicam que as falhas de compressão estão largamente distribuídas pela Lua, e não agrupadas perto do equador.

Ler mais em ciencia hoje.pt e em http://www.nasa.gov/mission_pages/LRO/news/shrinking-moon.html

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A famosa "Lucy" afinal já comia carne e usava ferramentas

Getty imagens
A famosa australopithecus Lucy, cujos restos foram encontrados na Etiópia em 1974, pode ter utilizado ferramentas de pedra, segundo a equipa internacional de paleontólogos dirigida por Zeresenay Alemseged, da Academia de Ciências da Califórnia.
Foto: AP Photo/Dikika Research Project -A ferramenta de pedra de dois ossos em Dikika, na Etiópia .

"Agora, quando imaginamos Lucy procurando comida na África do Leste, temos de vê-la com um utensílio de pedra na mão, em busca de carne", afirma Shannon McPherron, num comunicado do Instituto de Antrolopogia Evolutiva Max Planck da Alemanha.

Dois ossos fossilizados foram encontrados na Etiópia, um fêmur de um mamífero do tamanho de uma cabra e uma costela de um animal grande como uma vaca, com marcas de golpes, talhos e cortes, indicando a utilização de ferramentas de pedra para extrair a carne ou a medula óssea.

Os fósseis encontrados em Dikika, no nordeste da Etiópia, datam de 3,39 milhões de anos, segundo as análises, antecipando em 800.000 anos um momento chave da evolução do homem.

"Esta descoberta avança consideravelmente o momento a partir do qual nossos ancestrais mudaram completamente as regras do jogo", declarou Alemseged no comunicado.

"A utilização de utensílios modificou significativamente a sua interação com a natureza, permitindo-lhes comer novos tipos de comida e explorar outros territórios", acrescentou, salientando ainda que será preciso rever os conhecimentos sobre a evolução humana.

"Isso quer dizer que os Australopithecus Afarensis , como Lucy ou a bebê Selam, utilizavam utensílios de pedra". Selam, uma australopithecus morta aos três anos de idade, teria vivido há 3,3 milhões de anos, 200 mil anos ante de Lucy.

Até agora, as provas mais antigas da utilização de utensílios de pedra ou de animais provenientes de Buri ou Gona, na Etiópia, remontavam a 2,5 ou 2,6 milhões de anos, recordam os autores deste estudo, publicado na revista Nature.

Mas os investigadores ainda não foram capazes de estabelecer se os utensílios eram fabricados. "Um de nossos objetivos é voltar ao local, onde encontramos os fósseis e tentar achar os utensílios", afirmou McPherron.

Os cientistas sugerem que só o facto de utilizar tais utensílios mostra que os nossos ancestrais competiam com outros carnívoros pela comida, e que isso pode ter iniciado o trabalho em equipa dos humanos.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Perseidas...uma prometedora chuva

Não precisa de ir sair... hoje o espectáculo está no céu.

Chuva de Perseidas -imagem aqui

É a promessa da NASA e de muitos fóruns de astronomia, por isso vale a pena acreditar. Este ano, a chuva de estrelas cadentes (meteoros) das Perseidas, que atingirá o ponto alto esta noite, vai poder ser observada com condições especiais - como a lua nova - e poderá ser uma das melhores edições desde 2007.

As Perseidas acontecem todos os Verões e chamam-se assim porque as estrelas parecem cair da constelação de Perseu, como se estivesse um guarda-chuva aberto apontado naquela direcção e os traços de luz escorregassem pelos seus aros. A NASA compara o fenómeno a uma viagem em que se acaba com capô e pára-brisas carregados de mosquitos mortos. "A Terra, como um carro a grande velocidade, viaja à volta do Sol, chocando com tudo o que apanha pela frente. Não há insectos no espaço, mas não faltam meteoróides, fragmentos da poeira de cometas e asteróides." Quando batem na atmosfera da Terra, desintegram-se em traços de luz - os meteoros.

No caso das Perseidas, os mosquitos são o rasto do cometa Swift-Tuttle e estão visíveis a partir de Julho, com um pico entre 8 e 14 de Agosto. A melhor janela de observação deste ano está prevista para hoje, entre as 21 e as 23 horas. "Não aparecem em grande número, mas mesmo um ou dois será suficiente. Um meteoro é algo para recordar durante vários anos", diz a NASA. Evitar zonas com muita luz e ter alguma paciência são as recomendações. Se quiser a companhia de especialistas, o Centro Ciência Viva de Constância tem um programa especial a partir das 18h00, com a palestra "Poderá uma estrela cair-nos em cima?"
O fenómeno acontece todos os anos por esta altura e pode ser visto entre a meia-noite e o amanhecer no hemisfério norte.

As perseidas podem atingir velocidades de entrada na atmosfera de 59 quilómetros por segundo. Espera-se para as noites de 12 e 13 de Agosto a queda de 50 meteoros por hora a 61 quilómetros por segundo.
Noticia lida aqui
Se quiser saber mais sobre este acontecimento, consulte a página do blogue AstroPT. e a da NASA.

sábado, 7 de agosto de 2010

Fungo mata um milhão de morcegos na América do Norte


Um estudo publicado na revista científica Science mostra que a população regional de Myotis lucifugus pode desaparecer em 16 anos devido a um fungo que infecta estes mamíferos.
Imagens de morcegos afectados pelo fungo, durante a hibernação, retiradas da BBC
A doença tem o nome de white-nose syndrome (síndroma do nariz branco) porque aparece uma mancha branca nas regiões afectadas pelo fungo. O agente patogénico, Geomyces destructans, foi descoberto há pouco tempo, gosta de ambientes frios e ataca as partes expostas dos morcegos como o nariz, as orelhas e as membranas das asas.

A doença aparece durante a hibernação, tornando os morcegos irrequietos e com comportamentos bizarros. Os animais acordam várias vezes, gastando as reservas de gordura que têm para hibernar, o que os impede de sobreviver durante o Inverno.

Encontrar centenas de exemplares de morcegos mortos em grutas tornou-se frequente. De acordo com este estudo, morrem em média, durante a hibernação, 73 % dos morcegos da colónia de cada ano.
Os cientistas analisaram os dados disponíveis sobre a população de morcegos de 22 grutas e outros lugares de hibernação em cinco estados do nordeste dos Estados Unidos nos últimos 30 anos. Combinando esta informação com os modelos da população, determinaram que em 20 anos 99% da população do pequeno morcego cor de café desapareceria se a doença infecciosa continuar a expandir-se ao ritmo actual.

Segundo este estudo, dirigido pelo investigador da Universidade de Boston Winifred F. Frick, esta é uma das piores crises que afectaram animais selvagens na América do Norte. Os morcegos desempenham um papel primordial nos ecossistemas ao alimentarem-se de insectos. Como é sabido muitos deles tornam-se pragas das culturas e das florestas, outros propagam doenças aos humanos. “O myotis castanho [pesa entre as cinco e 14 gramas, atinge os dez centímetros de comprimento] é conhecido por consumir em cada noite cem por cento do seu peso em insectos. Este nível de consumo proporciona um importante serviço do ecossistema à humanidade, que reduz a utilização de pesticidas para matar os insectos”.
Fonte da noticia: elmundo.es

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Genoma de esponja revela origem dos primeiros animais e do cancro



Esponja da espécie Amphimedon queenslandica (cor cinzenta) da grande barreira de coral na Austrália (Maely Gauthier photo)

Uma equipe de investigadores da Universidade da Califórnia, Bekeley, e do Departamento of Energy’s Joint Genome Institute (JGI) seqüenciou o genoma da esponja do mar Amphimedon queenslandica. O trabalho fornece novos dados sobre as origens quer dos animais quer do cancro.
O genoma das esponjas, seres vivos multicelulares ( constituídos por várias células), aquáticos extremamente rudimentares, foi sequenciado. Esta descoberta assume grande importância pois permitirá aos cientistas compreender quais os genes relacionados com a multicelularidade e até dar resposta a algumas questões sobre o cancro. O facto do genoma da esponja ser "tão especial" prende-se com o facto de as esponjas serem seres vivos pluricelulares muito primitivos.

De entre os 20 000 a 30 000 genes presentes no genoma da esponja, cerca de 4670 famílias de genes (conjuntos de vários genes similares, que desempenham funções bioquímicas semelhantes e resultam da duplicação de um gene original) são comuns a todos os animais, sendo que dessas, 1268, ao não estarem presentes nos seres vivos unicelulares evolutivamente mais próximos das esponjas, estarão muito provavelmente relacionados com a multicelularidade. De facto, algumas das funções desempenhadas por estes genes em questão prendem-se com a capacidade das células enviarem ás suas vizinhas, sinais químicos, para que se dividam, cresçam de um modo coordenado e se diferenciem (especialização celular), o que é essencial para a coordenação e "divisão de tarefas" entre as células de um indivíduo multicelular.

Por outro lado, muitos genes presentes nas esponjas estão envolvidos no aparecimento do cancro. Isto é passível de ser explicado pelo facto dos tumores surgirem devido à divisão descontrolada de células, apenas possível num indivíduo pluricelular. Contudo, as esponjas não apresentam dois genes relacionados com o cancro e que são extremamente importantes no que toca à divisão celular, sendo que ao compreendermos como é que as esponjas "contornam esta situação", poderemos descobrir mais acerca do papel desses dois genes no aparecimento de cancro em seres humanos.
Todos os animais são descendentes de um ancestral comum que existiu há mais de 600 milhões anos. Criaturas do tipo esponja podem ter sido os primeiros organismos com mais do que um tipo de célula e com capacidade de se desenvolverem a partir de um óvulo fertilizado .

“A hipótese é que a multicelularidade e o cancro são as duas faces da mesma moeda”, diz Daniel Rokhsar, responsável pelo trabalho. “Se tu és uma célula de um organismo multicelular, tu tens que cooperar com outras células do corpo, dividindo-te quando é necessário. Os genes que regulam esta cooperação são também aqueles cuja interrupção pode levar as células a agirem de forma “egoísta”, crescendo de forma descontrolada em detrimento do organismo.

Para chegar a estas conclusões, a equipa procurou no genoma da esponja os genes que podem estar relacionados com o cancro humano ( mais de cem), tendo sido encontrados 90 deles. Futuras investigações podem mostrar como estes genes desempenham as suas funções ao dotar as células com o tal “espírito de equipa”.

As esponjas são frequentemente descritas como os “animais” mais simples existentes. Os seres humanos, no lado oposto, são considerados complexos – mas como esta complexidade aparece codificada no genoma é ainda um mistério. O que a pesquisa mostra é que, o genoma da esponja contem a maioria das famílias de genes encontradas no ser humano e que o número de genes de cada grupo mudou significativamente ao longo de milhares de anos.

“Apesar de pensarmos na esponja como uma criatura simples cujo esqueleto por vezes usamos na banheira, ela possui a maior parte das vias de desenvolvimento e bioquímicas associadas com funções complexas que ocorrem nos humanos”, explica Mansi Srivastava, também envolvido no trabalho. Os componentes que faltam podem revelar em investigações futuras como se deu a evolução para organismos maiores e mais complexos.

Entre os componentes em falta, os cientistas destacam a família de enzimas conhecida como CDK 4/6, que em mamíferos é crucial para a transição das fases do ciclo celular. No entanto, ela está presente em anémonas do mar, lançando a questão de que ela poderia ter sido um marco no desenvolvimento de animais mais complexos. Inibidores de CDK 4/6 para o ciclo celular são usados para tratar o cancro da mama.

Os cientistas também identificaram diversos genes que caracterizam outros animais, envolvidos na divisão e crescimento celular, morte programada da célula, adesão entre células, entre outros. No entanto, a esponja não tem intestino, músculos ou neurónios. “Surpreendentemente, o genoma da esponja revela agora que, ao longo da evolução que conduziu ao aparecimento caminho dos animais, os genes para produzir toda uma gama de muitas células especializadas evoluíram e lançaram as bases para a lógica genética de organismos que não funcionariam mais como células individuais”, ressalta Kenneth S. Kosik, co-autor do estudo.
Fonte da notícia:

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O Que Vive No Mar?

Publicado censo de todas as espécies marinhas em 25 regiões do mundo
Censo da vida marinha mostra que existem mais de 230 mil espécies que habitam os oceanos




"O que vive no Mar?", um censo da vida marinha compilado em alguns séculos e dez anos, foi publicado na segunda-feira, dia 1 de Agosto, pela revista científica PLoS ONE, da Biblioteca Pública de Ciências, constituindo um guia para futuras explorações dos oceanos.

O censo resulta da combinação de informação recolhida durante séculos de exploração dos mares com dados resultantes de um censo iniciado em 2000, para obter uma listagem de espécies em 25 regiões biologicamente representativas, do antárctico, passando pelos mares temperados e tropicais, até ao árctico.

A investigação, que constitui um prelúdio da compilação de todos os dados recolhidos e que será apresentada em Londres, a 4 de Outubro, vai permitir avaliar as mudanças provocadas pelas acções do Homem e da Natureza e guiar futuras explorações em áreas menos conhecidas, como as profundezas dos oceanos.

Os 360 investigadores envolvidos no projecto procuraram criar perfis inicias de regiões com biodiversidade conhecida localizadas na Antárctida, Europa Atlântica, Austrália, Mar Báltico, Brasil, Canadá, Mar das Caraíbas, China, Oceano Índico, Japão, Mediterrâneo, Nova Zelândia, África do Sul, América do Sul, Coreia do Sul, Corrente do Peru, Patagónia e Estados Unidos da América.

Os inventários continuam a decorrer em áreas como a Indonésia, Madagáscar e o Mar Arábico, que ainda não foram divulgados.

Dos dados já conhecidos, assinala-se que as águas australianas e japonesas são as que registam uma maior biodiversidade, com cada uma a apresentar quase 33 mil formas de vida que têm direito ao estatuto de "espécie" e, consequentemente, a um nome científico.

Do levantamento e análise de dados, os investigadores concluíram que o número de espécies conhecidas e com nome atribuído nas 25 áreas estudadas varia entre 2600 e 33 mil, agrupadas em 12 grupos.

Em média, cerca de um quinto do total de todas as espécies são crustáceos, o que, em conjunto com os moluscos e os peixes, constituem metade de todas as espécies conhecidas em todas as regiões.

Espécies como baleias, leões marinhos, focas, aves marinhas, tartarugas e morsas -- as melhores conhecidas da vida marinha -- integram a categoria de "outros vertebrados", que representa apenas dois por cento do total de espécies inventariadas.

Muitas espécies surgem em mais do que uma região e os detentores do título das "mais cosmopolitas" são espécies marinhas pertencem a géneros diferentes: plantas microscópicas (algas) e animais unicelulares.

Em Outubro, o Censo global vai disponibilizar a sua última estimativa de todas as espécies marinhas conhecidas da Ciência, o que deve ultrapassar as 230 mil.

Porém, recordam os cientistas, para cada espécie marinha conhecida da Ciência, há pelo menos quatro que ainda não foram descobertas.

E a ilustrar esta convicção, estima-se que a proporção de espécies ainda não descrita é de 39 a a 58 % na Antárctida, 38 por cento na África do Sul, 70 por cento no Japão, 75% nas profundezas do Mar Mediterrâneo e mais de 80 % na Austrália.

Um dos indicadores de biodiversidade é o número de espécies endémicas e, no censo da vida marinha, a divulgar esta segunda-feira, os lugares do pódio pertencem à Austrália, Nova Zelândia, Antárctida e África do Sul.

Os dados recolhidos revelam que as espécies endémicas representam cerca de metade das espécies marinhas da Nova Zelândia e da Antárctida e um quarto das registadas na Austrália e África do Sul.

Já as águas do Mar das Caraíbas, China, Japão e do Mediterrâneo possuem menos de duas mil espécies endémicas cada, enquanto o Mar Báltico regista apenas uma, uma alga denominada Fucus radicans.

Mas se procurarmos espécies invasoras, o Mediterrâneo é de visita obrigatória: possui o maior número de espécies estrangeiras, com mais de 600, o que representa quatro por cento de todas as inventariadas.

A 'porta' para esta imigração tem sido o Canal do Suez, sendo que maioria das espécies estrangeiras provém do Mar Vermelho.

Existem igualmente muitas espécies invasoras na região do Atlântico europeu, Nova Zelândia, Pacífico australiano e Mar Báltico, sendo as mais comuns os moluscos, os crustáceos e os peixes.

A proliferação de espécies invasoras é uma das principais ameaças à vida marinha, a que se juntam o excesso de pesca, a destruição do habitat e a poluição, ainda que a importância destas ameaças varie consoante as regiões.

Mas há novas ameaças com que contar, como o aumento da temperatura das águas, a sua acidificação e o alargamento de áreas caracterizadas por baixos níveis de oxigénio (hipoxia) na água do mar.

E mares como o Mediterrâneo, o Golfo do México, a plataforma chinesa, o Báltico e o Mar das Caraíbas são já considerados como os que apresentam uma maior situação de risco para a sua biodiversidade.
noticia lida em:
http://www.sic.sapo.pt/online/noticias/vida/Publicado+censo+de+todas+as+especies+marinhas+em+25+regioes+do+mundo.htm

terça-feira, 3 de agosto de 2010

IBM conseguiu o mapa do cérebro mais detalhado até hoje.

IBM cria o mapa do cérebro mais detalhado, até hoje.
O mapa com as representações das conexões entre as diversas regiões cerebrais do cérebro do macaco.PNAS.
Num artigo publicado terça-feira dia 27 de Julho, na revista PNAS, investigadores da IBM mostraram enormes avanços no mapeamento da arquitectura do cérebro, traçando três vezes mais ligações do que qualquer outro estudo feito até hoje. Para onde esse mapa nos leva? Para o futuro da computação cognitiva.
O mapa apresenta ao pormenor uma rede de longa distância que liga 383 regiões cerebrais e 6.602 conexões, as quais funcionam como uma espécie de autroestadas que unem regiões muito afastadas do nosso órgão central. As conexões mais pequenas também foram contempladas no mapa bem como a transmissão de sinais entre diferentes regiões do cérebro a uma escala menor.
Um pormenor interessante que aparece destacado neste mapa é a presença de um centro primordial do cérebro, o qual concentra as acções do órgão e se liga através de várias regiões com o córtex promotor, o córtex prefrontal, o lóbulo temporal, o tálamo, o córtex visual e outras regiões cerebrais.
A importância da elaboração deste mapa reside no facto do mesmo fornecer ferramentas que permitem imitar artificialmente o comportamento do cérebro, em concreto na feitura de chips capazes de processar informação com a mesma rapidez com que o faz o nosso cérebro.

Agora podemos ter uma visão sem precedentes sobre a forma como a informação viaja e é processada através do cérebro... um salto enorme, para pesquisas fundamentais e aplicadas em neurociência e computação cognitiva.
Tais informações permitirão aos cientistas criar análises teóricas mais precisas – usando o mesmo tipo de projecções que optimiza os sistemas de procura em redes sociais – que serão essenciais na criação de chips de computadores que possam guardar mais informações sobre o imenso poder computacional que nosso cérebro tem e navegar pela sua complexa arquitectura.

E, claro, é fantástico perceber que todo esse trabalho está sendo feito para mapear a vasta e misteriosa região que está dentro da sua cabeça neste exacto momento.
Noticia lida aqui
Site original do estudo
http://www.pnas.org/content/107/30/13485.full