Os pássaros canoros (que cantam) não nascem ensinados. Tal como os bebés humanos que começam por "palrar", vocalizando uma enorme gama de sons antes de começarem a falar, também os pássaros juvenis começam por ensaiar os sons que se tornarão mais tarde os gorjeios próprios da sua espécie. Ao estudar esta aprendizagem em mandarins, pássaros de pequena dimensão, de nome científico Taeniopygia guttata, uma equipa de investigadores do MIT, nos Estados Unidos, conseguiu identificar um complexo funcionamento dos circuitos cerebrais que determinam este comportamento exploratório (de treino), colocando ao mesmo tempo em evidência a sua importância na aquisição das competências da idade adulta.Pesquisas anteriores tinham sugerido que os mandarins possuem dois circuitos cerebrais distintos relacionados com os seus cantos. Um deles ligado à aprendizagem e treino dos "vocalizos" e o outro para comandar a emissão do gorjeio no pássaro adulto. Nesta espécie, só os machos cantam e, embora cada indivíduo tenha a sua canção específica, ela é passada de pais a filhos, durante o processo de aprendizagem investigado pelos cientistas do MIT.Outros estudos tinham mostrado que se o circuito cerebral que comanda a aprendizagem do canto nos pássaros juvenis for danificado, o animal já não progride nessa aprendizagem e não chega a adquirir o domínio da sua canção. No entanto, se o circuito cerebral que comanda essa aprendizagem for danificado numa ave adulta que já aprendeu a sua canção, essa competência mantém-se intacta.Mas o que acontece nos juvenis se a zona ligada à emissão do canto nos adultos for desligada por drogas ou por cirurgia? Ao fazer esta pergunta, a equipa do MIT liderada por Dmitri Aronov levantou uma questão nova. E descobriu um interruptor que permite comutar os dois circuitos, com resultados surpreendentes. Neste caso os treinos canoros dos juvenis não são afectados. Bloqueando, porém, uma pequena parte do circuito responsável pela produção do canto num pássaro adulto, ele volta a usar o outro circuito cerebral que lhe permite voltar a fazer os sons juvenis, o que significa que os dois mecanismos cerebrais não são estanques.
Retirado de Diário de Notícias em 2-05-09
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