sábado, 11 de julho de 2009

"Sardine Run"- Adrenalina no limite

O Sardine run vai começar de novo este ano e a adrenalina vai subir




Esta imagem caracteriza bem a cena de batalha que se passa debaixo das águas da costa africana. Transmite bem a sensação do pandemónio e do caos que ali se passa.
Que sorte a desta ave, já apanhou uma sardinha. Mas há muitas, muitas mais...são aos milhões
Fotos do Sardine run de 2008, retiradas de Flickr.com

O FENÓMENO "SARDINE RUN"

Quando pensamos em África, algumas imagens vêm imediatamente à cabeça da maioria: leões e girafas em safaris, pessoas passando fome (infelizmente), desertos a perder de vista, entre outras. Raros são aqueles que se lembram que a África é banhada por 2 oceanos (Atlântico e Índico) e 2 mares (Mediterrâneo e Vermelho), o que lhe proporciona uma costa extensa, com vários pontos de mergulho nota 10.

Mas não é dos melhores locais de mergulho desta costa que quero falar mas sim de um "evento" - diga-se de passagem, o maior evento marinho natural do planeta: o "Sardine Run".

Cardumes com milhões de sardinhas têm esta semana dado às praias sul-africanas da costa sul da província do Kwazulu-Natal, repetindo um ritual que todos os anos anima aquela costa.

A "Corrida das Sardinhas" (Sardine Run, no original), designação dada localmente ao evento, é um fenómeno que tem lugar todos os anos entre fins de Maio e início de Julho. Um cardume de milhões de sardinhas (Sardinops sagax) aparece na costa de Kwazulu-Natal, na África do Sul (do lado Índico), entre Durban e Port Edward. Este cardume fica a cerca de 1 km da costa, tem em média 7 quilómetros de extensão e pode chegar a 30 metros de profundidade. Uma verdadeira muralha de sardinhas, cuja migração para a costa sul-africana foi oportunamente apelidada pelos moradores locais de "o maior cardume da Terra".

O grande cardume se subdivide em cardumes menores, mas a mancha escura que indica a movimentação de tal agregação pode ser vista por medições térmicas, via satélite. Pouco se sabe sobre o mecanismo exacto do porquê de elas se juntarem ali daquela forma ou de onde as sardinhas vêm, mas sabe-se que é necessário que, uma corrente de água fria venha do sul, do Cape Agulhas Bank, e chegue até ali com uma temperatura da água não maior que 21ºC - há anos em que a água não arrefece e o fenómeno simplesmente não acontece. Afinal, sardinhas são peixes de águas frias, não subiriam uma costa quente como a do leste da África se condições especiais não diminuíssem a temperatura da água. Especulava-se que a presença das algas que vêm junto com a corrente fria fosse um motivo provável das sardinhas aparecerem, mas um estudo de mais de 20 anos mostrou que não havia correlação entre a concentração de clorofila-a e a distribuição das sardinhas. Um grupo da Universidade de Kwazulu-Natal tem se dedicado ao estudo do fenómeno, levantando dados oceanográficos na tentativa de entender melhor a dinâmica do Sardine Run. Quem sabe um dia até prever ao certo a data e o local onde elas aparecerão.

O "Sardine Run", é um espectáculo impressionante, diz quem já assistiu. Eu nunca fui à África, e sonho em assistir de perto ao Sardine Run, porque deve ser uma experiência ímpar. Todas as fotos que já vi sobre o evento são fantásticas. As sardinhas, para se protegerem dos inúmeros predadores que aparecem para aquele manjar frenético, formam os chamados "baitballs" (bolas de isca), e se movimentam freneticamente fugindo dos ataques dos predadores. Que são vários: tubarões, golfinhos, baleias, pássaros, peixes-espada, mola-molas, focas e quem mais estiver por ali a fim de se alimentar de sardinhas. É ataque por todos os lados, uma verdadeira guerra subaquática onde os predadores se unem e o alvo comum são as sardinhas. Quem em geral as traz "para cima", são golfinhos que "forçam" aos poucos as sardinhas a nadarem cada vez mais próximas da superfície. Uma vez que, elas cheguem a profundidades menores, o festim da alimentação começa. Ali, a costa do Índico da África do Sul (algumas vezes chega até Moçambique) passa a ter durante o "Sardine Run" a maior agregação de grandes predadores imaginável - ou seja, é o melhor estúdio fotográfico submerso que pode haver no planeta.

Entretanto, o mergulho no "Sardine Run" é para poucos. Primeiro, porque é muito caro. Segundo, porque se tem que esperar o momento certo, ou seja, na prática pode chegar em Durban em Maio e só sair de lá em Julho, porque as sardinhas resolveram aparecer mais tarde. Ou o inverso, se planear para Junho e elas vierem em Maio. Você está a mercê da natureza. Consequentemente, é necessário ter tempo para este tipo de "espectáculo ao natural". Terceiro, porque o mergulho é em mar aberto, com correntes fortes, o que é complicado para a maioria dos mergulhadores amadores, ou seja, este desporto é só para os expert em mergulho avançado. Quarto e mais importante, o óbvio: é se jogado no meio de uma "bola" de sardinhas que vão ser comidas por inúmeros animais maiores vindos por todos os lados, inclusive de fora da água. A probabilidade de se ser maltratado no meio desse frenesim é grande, e como as sardinhas fazem uma espécie de parede escura, a visibilidade não é das melhores. De repente pode-se dar de cara com um tubarão ou foca de boca aberta, pronto para uma mordidela no baitball. Ou seja, a hipótese de se ser confundido com comida é elevada. Adrenalina a 1000 é pouco para descrever a "brincadeira".
Mas, mesmo com todas estas dificuldades, os relatos que já li/ouvi de diferentes pessoas sobre a experiência de mergulhar e/ou assistir ao Sardine Run são fascinantes. É uma das milhares de peculiaridades biológicas da África que eu gostaria de um dia (quem sabe...) vivenciar. De preferência debaixo d'água.

A chegada dos cardumes é acompanhada de milhares de gaivotas que sobrevoam os cardumes e de golfinhos que gozam do festim enquanto ensaiam graciosos saltos e piruetas a poucos metros das praias. Os cardumes que chegam às praias são capturados por milhares de populares e turistas que, com o auxílio de redes e baldes e até mesmo à mão em grandes quantidades no espaço de algumas horas.

O "Sardine Run" levou as autoridades turísticas da região a promoverem anualmente o Festival da Sardinha, que decorre entre meados de Junho e finais de Julho e que inclui desportos náuticos, concertos de música, festivais gastronómicos, acrobacias aéreas, mergulho em áreas determinadas para observação dos cardumes de sardinhas e outras espécies e muitas outras actividades.

É MESMO UMA FESTA EM GRANDE.
Esta semana, os cardumes, que estão a ser monitorizados há vários dias ao longo da costa por aviões ultra-ligeiros alugados pela Junta de Turismo da Costa Sul e organizações marítimas oficiais, deram à costa na zona de Port Edward por duas vezes e continuam a movimentar-se mais ao largo, o que sugere que deverão dar às praias nos próximos dias.

Um dos eventos relacionados com o Festival da Sardinha é o Festival de Gastronomia e de Vinhos dos Marinheiros Portugueses, que decorrerá a 18 e 19 do corrente em Poet Edward.
Este festival, no qual se envolve a comunidade portuguesa da província, contará com iguarias da cozinha tradicional portuguesa, muitos mariscos, provas de vinho e ranchos folclóricos portugueses e zulus.
Em 2008, no mesmo festival, foi batido o recorde do Guiness da maior quantidade de marisco cozinhado e consumido num só dia e que era detido pela Junta de Turismo do Kuwait: 1.739 quilos de marisco foram consumidos por 7.200 visitantes.
Podes acompanhar o impressionante "Sardine Run" no vídeo







Fonte da notícia: DNCIÊNCIA e

http://www.interney.net/blogs/malla/?cat=1081

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