sábado, 4 de julho de 2009

O Segredo da Salamandra

Um dos mistérios da natureza que despertou mais interesse desde Aristóteles a Darwin, passando por Voltaire, é a capacidade das salamandras de regenerar os seus membros.
Pois agora Martin Kragl do Instituto Max Planck da Alemanha e uma equipa de cientistas alemães e norte americanos conseguiram descobrir o enigmático processo celular que ocorre nos seus organismos. A nova descoberta publicada na revista 'Nature', revela que as células das salamandras conseguem conservar na sua "memória" os tecidos dos quais são provenientes e regenerá-los.
Até agora, acreditava-se que a capacidade de regeneração das salamandras se devia à actividade de células estaminais, capazes de regenerar qualquer tipo de tecidos. Em vez disso, as células guardam uma "memória" do seu tecido de origem embrionário. Isto é, as células de músculos produzem tecidos musculares, enquanto que as células de cartilagem, produzem cartilagens, as células nervosas produzem neurónios. Isto é, o mesmo mecanismo das células estaminais adultas humanas, que podem curar feridas ou unir ossos partidos, mas levado ao extremo, que é a regeneração de um membro ou órgão completo.
Para descobrir os mistérios celulares da regeneração da salamandra, Kragl e a sua equipa utilizaram axolotes "Ambystoma mexicanum", uma espécie de salamandra que pode viver até 12 anos, vive num lago mexicano, é fácil de criar em cativeiro e com embriões grandes bons para estudar. Quando um axolote, sofre uma amputação, os vasos sanguíneos no coto remanescente contraem-se imediatamente, reduzindo o sangramento ao mínimo, e uma camada de células epiteliais rapidamente recobre a superfície do local da amputação. Nos primeiros dias após o ferimento essa repidermização se transforma em uma camada de células sinalizadoras, chamadas capa epitelial apical (AEC, na sigla em inglês), que é indispensável para o sucesso da regeneração. Enquanto isso os fibroblastos são dispensados da função de sustentação do tecido conjuntivo e atravessam a superfície amputada até o centro da ferida, onde proliferam para formar um blastema – agregado de células semelhantes a células estaminais que actuarão como progenitoras do novo membro. E passado três semanas o axolote já tem uma nova pata.

Karlg e seus colegas utilizaram uma proteína, a GFP, que modifica as células tornando-as verde florescente sob uma luz ultravioleta, portanto visíveis. Esta proteína permite aos cientistas seguir as células modificadas desde a sua origem até ao seu destino.

Neste caso, utilizaram embriões e adultos. Aos primeiros, injectaram células com GFP que sabiam ser transformadas em células nervosas , o que lhes permitiu comprovar como se gerava o tecido nervoso. No caso dos adultos, injectaram-lhes tecidos e órgãos que retiraram de salamandras transgénicas, cortaram parte desse tecido enxertado para examinar sua regeneração.

Usando estas técnicas, os investigadores analisaram os 4 tipos de tecidos: derme, cartilagem, músculo e as células de Schwann -tecido neural que isola os nervos dos membros. Com excepção das células dérmicas descobriram que cada tipo de célula fluorescente regenera o mesmo tipo de tecido do membro amputado. As células da derme contribuem para a formação da cartilagem e tendões, além da derme. Esta aparente excepção pode ser resultado da origem comum às células da derme e da cartilagem do embrião, referiu Tanaka. Assim a formação do blastema quer pode activar uma célula estaminal progenitora comum duma célula dérmica ou de cartilagem quer causar a desdiferenciação de células dermais numa ou noutra dessas células progenitoras.

Segundo Sánchez Alvarado, também autor do artigo, é provável que as células sejam desdiferenciadas e que de alguma maneira “memorizem” o que é preciso para se diferenciarem de novo . As células provavelmente regressam a um estado embrionário mas não ao estado de células totipotentes, concorda Tanaka.
Quando se conseguir entender completamente como as salamandras fazem a regeneração, poderemos saber porque os mamíferos não o fazem, o que poderá ser útil para tratar o cérebro humano e doenças, assegura Maden
Segundo os investigadores, as células têm capacidades limitadas, e por isso apenas podem reproduzir o tipo de material de que são feitas, e não de qualquer tipo. Esta descoberta vai ajudar a medicina regenerativa, principalmente na investigação de tratamentos que poderiam renovar partes do corpo humano de um adulto.
Malcolm Maden, co-autor da Universidade de Florida, assegura que estes resultados "dão novas esperanças de que un dia sejamos capazes de regenerar tecidos nas pessoas e conseguir curar sem cicatrizes". De facto, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos já financiou investigações sobre este animal, na esperança de encontrar uma solução para os soldados amputados no Iraque e Afeganistão.--
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