Colónia gigante de amibas - Foto de Owen Gilbert/Rice University
O Texas (Estados Unidos) pode vangloriar-se de uma notícia insólita: abriga a maior colónia mundial de amibas clonais.
Os cientistas localizaram esse vasto e pegajoso império, com cerca de 12m de extensão, constituido por milhões de indivíduos unicelulares geneticamente idênticos, palpitando de vida no lodo de um pasto de vacas perto de Houston.
"Foi um acontecimento muito inesperado", disse Owen Gilbert, aluno de pós-graduação da Universidade Rice e autor do estudo publicado pela revista Molecular Ecology na sua edição de Março. "Nunca tínhamos visto nada parecido".
Os cientistas dizem que a descoberta representa mais do que uma simples curiosidade, porque a colónia é formada por amibas ditas sociais. Ainda que o termo "amiba social" possa parecer contraditório, as amibas sociais são capazes de se reunir em grupos organizados e de apresentar comportamentos de cooperação ; algumas delas chegam a cometer suicídio para ajudar na reprodução das outras.
A descoberta de uma colónia tão grande de amibas geneticamente idênticas oferece novas percepções sobre como essa cooperação e sociabilidade podem ter evoluído, e pode ajudar a explicar a razão dos micróbios exibirem comportamento social pronunciado num número de ocasiões mais elevado do que aquele que a ciência costumava prever.
"A descoberta tem um interesse científico bastante significativo", disse Kevin Foster, Biólogo evolutivo da Universidade Harvard, que não participou do estudo. Ainda que pareça improvável que amibas coordenem interacções mútuas a distâncias maiores que as microscópicas, a descoberta de uma colónia clonal de proporções tão gigantescas, "suscita a possibilidade de que as células possam evoluir de maneira a organizar-se em escala espacial muito mais ampla" referiu o cientista.
O conceito de uma colónia de amibas gigante pode conjecturar lembranças do filme "A Bolha Assassina", clássico da ficção científica de 1958, se bem que as amibas sociais em questão, espécie conhecida como Dictyostelium discoideum, actuam de maneira muito mais subtil. Microscópicas e ocultas na terra, as amibas teriam passado despercebidas a qualquer observador do pasto.
Joan Strassmann, co-autora do estudo com Gilbert e David Queller, outro Biólogo evolutivo da Universidade Rice, disse que ela e uma equipe de alunos de graduação procuraram exemplares da espécie usando palhinhas de refrigerante espetadas na terra e no esterco das vacas, a fim de extrair material onde as amibas supostamente se encontrariam. No laboratório, eles estudaram as amostras. Estudos de ADN demonstraram que grande número das amibas recolhidas do pasto eram geneticamente idênticas.
Bernard Crespi, Biólogo evolutivo da Universidade Simon Fraser, no Canadá, salientou que o estudo era o primeiro a demonstrar claramente "a intima inter-relação" existente entre os micróbios sociais, uma população de indivíduos geneticamente idênticos. Uma colónia com as características apresentadas oferece condições ideais para fomentar a evolução de comportamentos como a cooperação, porque quanto mais semelhantes forem dois organismos, em termos genéticos, mais a selecção natural favorecerá que se auxiliem mutuamente.
A Dictyostelium, por exemplo, é capaz de feitos notáveis de cooperação, e demonstra exemplos de altruísmo suicida, um comportamento sob o qual amibas individuais se unem para formar um único corpo, com algumas delas sacrificadas a fim de permitir a reprodução mais efectiva de amibas em outras porções desse corpo.
Os cientistas afirmam que se forem encontradas colónias clonais também de outras espécies, isso poderia ajudar a explicar os exemplos generalizados de comportamento social encontrados entre os micróbios. Mas ainda não é claro qual a condição que precipita o florescimento dos clones. Os cientistas referem que encontrar as amibas reproduzindo-se em massa em campo aberto é bastante estranho, porque elas tendem a preferir o solo de floresta.
É possível que as vacas tenham estimulado o crescimento da colónia ao espalhar as amibas pelo lodo, diz John Bonner, Professor emérito de ecologia e biologia evolutiva na Universidade de Princeton. Mas embora uma colónia de dois milhões de amibas possa parecer impressionante (ou até ameaçadora), na verdade ela mostrou-se surpreendentemente frágil.
"Após uma semana , choveu bastante e a colónia basicamente desapareceu", disse Gilbert. Aparentemente, é essa a natureza fugaz dos grandes fenómenos amebianos, porque a colónia clonal do Texas não é a primeira a desaparecer inexplicavelmente.
Fonte da notícia: The New York Times
Artigo publicado por CAROL KAESUK YOON a 23 de Março de 2009
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