sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Lémures na luta contra a Sida

Foto retirada de: Flickr

Os cientistas que procuram soluções para o combate à Sida poderão contar com um novo aliado: o lémure. Este pequeno primata de Madagáscar é imune à doença, já que o seu ADN contém genes que o protegem do vírus. Esta descoberta poderá ajudar a combater uma infecção que afecta 33 milhões de pessoas e causa um milhão de mortes por ano.
Os últimos dados da Organização Mundial de Saúde(OMS) referem que só na Europa o número de infectados duplicou entre os anos 2000 e 2007.

De acordo com estudo realizado por uma equipa de cientistas da Universidade de Stanford o genoma de um lémure, primata do tamanho de um esquilo que vive apenas em Madagáscar, pode ajudar os cientistas a compreender como os vírus da Sida evoluíram com os primatas. O estudo – publicado nesta terça-feira (dia 2) na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS) – pode vir a mostrar o motivo pelo qual os primatas não humanos não contraem Sida e levar ao desenvolvimento de novos tratamentos para as pessoas.

O Cientista Rob Glifford, autor principal do estudo, analisou o ADN de 21 espécies de primatas à procura de uma cadeia de nucleotídeos equivalente ao genoma do moderno lentivírus — família de vírus na qual se inclui o da imunodeficiência humana (HIV) — e encontrou-a no ADN do pequeno lémure cinzento (Microcebus murinus).
O HIV é um retrovirus que pertence à família dos lentivírus( nome que tem a sua origem na lentidão com que a infecção demora a instalar-se). Até ao momento pensava-se que estes vírus começaram a infectar os primatas à cerca de um milhão de anos. Acredita-se que o vírus se transmitiu no estado activo aos seres humanos através do consumo de carne de chimpanzé em África.
Tendo em conta os resultados do estudo os cientistas estão convencidos de que os lentivírus começaram a infectar os primatas há 85 milhões de anos.
Os lentivírus reproduzem-se inserindo o ácido ribonucleico no ADN de uma célula. Sabe-se que alguns deles infectam células que se transformam em espermatozóides ou óvulos, e, consequentemente, incorporam o ADN viral no genoma do hospedeiro.
Até o ano passado, quando Glifford descobriu um lentivírus endógeno no ADN do coelho europeu, ignorava-se que os lentivírus podiam ser herdados dessa maneira.
Os ancestrais do lémure moderno colonizaram Madagáscar há 75 milhões de anos e, desde então, evoluíram longe de seus primos africanos portadores do lentivírus, dos quais estão separados por 400 quilómetros de mar. A última das pontes terrestres ocasionais entre ambos os lugares desapareceu sob o mar há 14 milhões de anos, o que sugere que os lentivírus têm pelo menos essa idade. A descoberta de Glifford também sugere que os lentivírus podem ser encontrados em outros lugares, entre os macacos asiáticos e do Novo Mundo.
Estas interacções entre lentivírus e primatas revestem-se de grande interesse para a luta contra a Sida porque vários dos genes que protegem os símios da doença codificam proteínas do sistema imunitário que atrasam ou bloqueiam a reprodução do vírus, algo que não ocorre nos humanos.
Segundo pesquisas anteriores, esses genes evoluíram como uma resposta a milhões de anos de infecção por um retrovírus.
Até agora, os cientistas pensavam que os lentivírus eram jovens demais para terem participado na evolução. Gifford e seus colegas demonstraram que as interacções dos vírus com os primatas datam de vários milhões de anos. Estas evidências podem ajudar a entender a evolução destas defesas imunitárias tão importantes e trazer novas perspectivas para o tratamento ou a vacina contra a Sida.
A propósito do Dia Mundial da Luta contra a Sida,comemorado dia 1 de Dezembro, o Projecto Grande Símio exige mais medidas para acabar com uma pratica que continua vigente em África. De facto, em Madagáscar ainda se caçam lémures apesar de serem animais protegidos.
Fonte da notícia: ElMundo.es

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