segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Fungo ameaça dizimar populaçoes de anfíbios em todo o mundo

Fungo ameaça dizimar populações de anfíbios em todo o mundo

Foto:http://www.ra-bugio.org.br/anfibios

Relatórios da IUCN (International Union for Conservation of Nature) revelam que 1896 espécies, representando 32% dos anfíbios mundiais se encontram em risco. As ameaças a estes animais incluem doenças virais, perda de habitat, seca, poluição e falta de alimento mas parece que a principal é mesmo o fungo: o Batrachochytrium dendrobatidis. Estão a ser tomadas medidas para controlar esta praga, nomeadamente o resgate de indivíduos do seu habitat natural mas, tal como revela um estudo recente, não vai ser fácil de combater.

O Batrachochytrium dendrobatidis é um fungo parasita que foi recentemente associado ao declínio das espécies de anfíbios que se tem vindo a verificar ao longo dos últimos 50 anos em todo o mundo, com destaque para as florestas montanhosas tropicais da Austrália e Panamá. Está na origem de uma micose cutânea (infecção da pele por um fungo) designada por Chytridiomicose. já que está incluido na divisão Chytridiomycota, a qual engloba os fungos mais primitivos. Foi descoberto pela primeira vez em 1998 e é o único fungo desta divisão conhecido por parasitar vertebrados. Pode sobreviver no ambiente, especialmente em meios aquáticos, durante várias semanas e provocar infecções latentes nos hospedeiros, o que dificulta muito a sua erradicação.
Afecta tanto adultos como girinos (formas larvares dos anfíbios) embora nestes últimos afecte apenas a região bucal porque o resto do corpo não é ainda revestido pelas células queratinizadas em que se desenvolvem. Já foi descrito em 38 espécies de anfíbios, incluindo sapos, rãs e salamandras em todos os continentes com excepção da Ásia.

Neste momento pensa-se que será o principal responsável pelo declínio global nas populações de anfíbios que tem ocorrido desde os anos 60. É capaz de matar um sapo adulto em 10 a 18 dias embora a forma como a patologia se desenvolve seja ainda desconhecida. Até ao momento foram descritas duas hipóteses: um processo físico em que o fungo destrói as células da epiderme e o hospedeiro, que respira pela pele, morre por asfixia, ou um processo químico em que o fungo produz um tipo de substância tóxica.
Até agora a maioria dos esforços para conservação dos anfíbios foram concentrados na identificação de espécies em alto risco de extinção estabelecendo programas de reprodução em cativeiro em unidades de biosegurança em que os indivíduos estão protegidos de Batrachochytrium dendrobatidis.

“A resposta imediata tem sido a adequada: tirar as espécies ameaçadas do seu estado selvagem e mantê-las em cativeiro” diz Trent Garner do Institute of Zoology, em Londres. Acrescenta no entanto que “estamos eventualmente a deixar de fora espécies muito importantes, isto porque, inevitavelmente, umas acabam por ter prioridade sobre as outras”.

Agora está a surgir uma estratégia alternativa que no passado muitos julgaram impossível: reduzir a quantidade de Batrachochytrium dendrobatidis nas populações selvagens e permitir que convivam com ele.

Em experiências laboratoriais Garner e os seus colegas têm demonstrado que é possível curar os girinos infectados com Batrachochytrium dendrobatidis banhando-os numa solução de itroconazole, um antifúngico, durante 5 minutos por dia e ao longo de 7 dias. “Mesmo usando dosagens muito baixas, conseguimos mostrar que é possível eliminar o Batrachochytrium dendrobatidis dos anfíbios” diz Garner que apresentou os seus resultados num encontro sobre o declínio dos anfíbios na Zoological Society of London, na passada semana.

Além disso, uma inspecção detalhada um mês depois demonstrou que estes não sofreram qualquer um dos efeitos secundários da droga, como lesões hepáticas.

No princípio do próximo ano, Garner e a sua equipa irão viajar para Maiorca, em Espanha, onde o Batrachochytrium dendrobatidis afecta o sapo parteiro de Maiorca (Alytes muletensis), que ocupa a 55ª posição na lista das 100 espécies anfíbias em maior risco de extinção, de acordo com a Zoological Society of London.

A equipa planeia resgatar girinos desta espécie do habitat em que vivem, submetê-los ao mesmo tratamento e devolvê-los de novo à natureza. Como o Batrachochytrium dendrobatidis pode ainda afectar estes indivíduos, a equipa de Garner vai experimentar com quantos girinos tratados e quantas vezes a população sobreviverá com um nível aceitável de indivíduos. “O objectivo é a atenuação e não a eliminação” diz Garner. “Já que os sintomas da doença variam de acordo com a quantidade de fungo a que os anfíbios estão expostos, tal redução pode tornar a infecção por Batrachochytrium dendrobatidis menos mortal e mesmo reduzir o número de novas infecções”.
Richard Griffits da University of Kent, em Canterbury, no Reino Unido,adverte também que pode ser necessária uma estratégia diferente para combater o Batrachochytrium dendrobatidis noutras partes do mundo. Garner admite que as coisas podem tornar-se mais complicadas se, por exemplo, o número de espécies que partilham o mesmo habitat for maior.

Outra opção discutida na reunião para proteger as populações de anfíbios deste fungo e outras ameaças é preservar o seu esperma e ovos para que a diversidade genética possa ser mantida mesmo com o número de exemplares a diminuir. Por exemplo, desde Junho que o Projecto Amphibian Ark tem vindo a discutir o estabelecimento de Biobancos para anfíbios.

Fonte da noticia: http://www.animalia.pt/

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