quarta-feira, 2 de abril de 2008

PORQUE DESAPARECERAM OS MAMUTES?

Aquecimento global e acção humana responsáveis pelo desaparecimento dos mamutes
Estudo orientado por português esclarece uma das maiores extinções da história dos grandes mamíferos.

Porque é que se extinguiram os mamutes? A pergunta é finalmente respondida num estudo publicado hoje pela revista científica "PLoS Biology". Segundo uma equipa de cientistas do Conselho Superior de Investigação Científica espanhol (CSIC), do Centro Nacional de Investigação sobre a Evolução Humana (CNIEH) e do Colégio Imperial de Londres, os enormes mamíferos foram vítimas do aquecimento global dos últimos 20 mil anos, com a progressiva destruição dos seus habitats. Mas a derradeira causa da extinção, dizem os investigadores, foi o facto de o Homem ter caçado os últimos espécimes.
Desde que, em 1809, Mikhail Adams descobriu o primeiro vestígio fóssil de um mamute na Rússia, os cientistas têm tentado identificar os factores que levaram à extinção destes mamíferos. Traçadas várias hipóteses, o estudo agora publicado, financiado pela Fundação BBVA no âmbito do programa Apoio à investigação em Biologia da Conservação, conclui que a extinção da espécie ocorreu devido à acção conjunta das alterações climáticas e do Homem. O aquecimento do planeta desde o último Máximo Glaciar (entre os 21 mil e 10 mil anos atrás) até ao Holoceno médio (período actual da escala do tempo geológico, que se iniciou há 11500 anos) restringiu os habitats favoráveis aos mamutes às zonas árcticas, por outro, as migrações humanas para norte desencadearam a extinção final, explicam os investigadores. Segundo o estudo, há 21 mil anos, quando os mamutes sobreviviam nos seus habitats, as temperaturas eram muito mais baixas do que são hoje e a precipitação mais escassa. No centro de França, por exemplo, as temperaturas médias eram de -6ºC e a precipitação de 400mm/anos. Há 6000 anos, altura em que terá começado a extinção da espécie, a temperatura média da região já tinha aumentado para os 4ºC e a precipitação para os 1000mm/ano. De acordo com os investigadores, este aumento global da temperatura levou à redução das vastas estepes frias em que viviam os mamutes, o que favoreceu o aumento do impacto humano (antrópico) sobre a espécie e que acabou por condenar a sua sobrevivência. A equipa desenvolveu diferentes modelos para avaliar as condições climáticas em que viviam os mamutes há 42 mil anos, 30 mil anos e 21 mil anos. Os modelos relacionavam a distribuição dos mamutes nesses períodos (conhecida através de vestígios fósseis datados previamente) com mapas de simulação climatérica em que se quantificavam as temperaturas mais frias e mais quentes, bem como os níveis de precipitação. Depois de definirem as condições climáticas em que vivia o mamífero, projectaram-nas para o momento da sua extinção (há 3500 anos) e para um período com um clima similar ao da extinção, há 126 mil anos, em que o mamute terá sobrevivido.
Humanos caçaram os últimos mamutes.
De acordo com os investigadores, se há 126 mil anos as condições climáticas óptimas para a sobrevivência do mamute cobriam uma superfície aproximada de 0,3 milhões de quilómetros quadrados, muito inferior aos 3,7 milhoes de há 21 mil anos, e até inferior aos 0,8 milhões de há 6000 anos, o único factor que explica porque é que o mamute não desapareceu então, milhares de anos mais cedo, é que na altura não convivia com o Homo sapiens sapiens no norte da Eurasia. Os modelos de identificação de áreas com habitats favoráveis foram depois incorporados em modelos de dinâmicas de populações de mamutes que incluíam o possível impacto antrópico. Segundo o cálculo realizado, no momento da extinção, a espécie estava reduzida a poucos espécimes na Sibéria Árctica. A extinção terá ocorrido devido à caça humana dos últimos mamutes, numa relação de um mamute por pessoa a cada três anos, segundo a estimativa mais alta, e um por pessoa cada 200 anos, segundo a estimativa mais baixa.
Conclusões relevantes para a previsão de futuras extinções
Segundo David Nogués-Bravo, primeiro autor do estudo que é assinado como cientista orientador pelo português Miguel Bastos Araújo, "a incorporação dos métodos que utilizados para prever as extinções do futuro na análise do desaparecimento das espécies do passado representa uma novidade radical no âmbito do estudo das extinções quaternárias". Esta nova metodologia "vai permitir conhecer as causas que levaram ao risco de extinção de outras grandes espécies de mamíferos na Europa, como os rinocerontes e as hienas", acrescentou Joaquín Hortal, investigador do Colégio Imperial de Londres. Para os investigadores, a extinção dos mamutes deve ser vista como exemplo para os riscos de extinção que muitas espécies podem vir a sofrer nas próximas décadas. "A acção conjunta das alterações climáticas e da pressão antrópica directa, como por exemplo as alterações na exploração do solo, podem levar à extinção de outras espécies no futuro", disse Miguel Araújo, investigador do CSIC. Os modelos desenvolvidos pelos autores sugerem outras zonas que se mantinham favoráveis aos mamutes no momento da sua extinção fora da Sibéria, como por exemplo a Mongólia. Novas expedições em busca de vestígios fósseis podem ajudar a clarificar como foram os últimos dias do mamífero. "A investigação sobre espécies que se extinguiram no passado pode oferecer muita informação útil sobre os processos finais que desencadeiam as extinções e, assim, ajudar a compreender melhor qual pode ser o impacto das actuais alterações globais sobre a biodiversidade", conclui David Nogués-Bravo.
Fonte: Ciência Hoje em 01-04-08

1 comentário:

Unknown disse...

gostei muito e fiquei muito ilucidado de como e quando estes seres desapareceram .muito obrigado