sábado, 26 de abril de 2008

Cotonetes, escovas de dentes e outras coisinhas mais







O plástico é uma coisa recente… tão recente que o primeiro composto de plástico foi desenvolvido apenas no início do século XX.

Este material, relativamente novo quando comparado a outros como o vidro e o papel, passou a estar presente, por vezes de forma incontornável, em grande parte dos nossos utensílios e consumíveis domésticos. Bastará pensar na quantidade de produtos de plástico ou com invólucros de plástico que diariamente adquirimos em qualquer supermercado.

Se olharmos com um pouco de atenção para a constituição do plástico, notamos que este nada mais é do que uma produção sintética, de concepção integralmente humana. A sua composição corresponde a produtos derivados de refinarias de petróleo (hidrocarbonetos) e a outros elementos (frequentemente compostos clorados). São fabricados pelo processo de polimerização, no qual pequenas moléculas se combinam quimicamente e produzem outras maiores, através de um conjunto de reacções conjuntas (mediante o emprego de calor e/ou pressão), formando um material sólido estável.

De uma forma geral, são dois os tipos de plásticos que encontramos nas prateleiras de qualquer supermercado: os termorrígidos, que uma vez expostos aos processos de aquecimento e aumento de pressão não podem mais ser fundidos (portanto, não são passíveis de serem transformados pelo processo de reciclagem); e os termoplásticos, que podem ser repetidamente amolecidos e moldados através dos anteriores processos.

Os plásticos apresentam, na sua generalidade, uma característica importante e particular: são extremamente duráveis. Tão duráveis que não apodrecem nem se degradam com a facilidade de outros compostos naturais como os de madeira. Como resultado, enormes quantidades de produtos compostos de plástico são descartados e acumulam-se no ambiente sob a forma de lixo.
Até para aqueles organismos invisíveis ao nosso olhar (bactérias e outros microorganismos responsáveis pela biodegradação), o plástico não é banquete fácil, seja em condições naturais ou mesmo quando são adicionadas misturas de celulose para facilitar a digestão microbiana.

Um outro importante factor a ter em consideração é a dificuldade de degradação deste composto quando em ambiente marinho, no qual as condições são completamente diferentes das dos ambientes terrestres (aquelas utilizadas aquando da estimativa de tempos de biodegradação).

Das cerca de 100 milhões de toneladas de plástico fabricadas por ano, 10 milhões (!) destas vão, voluntária ou involuntariamente, parar ao mar. A frota mercante mundial e as plataformas marinhas são responsáveis por 20% (639 mil contentores de plástico/dia) desta descarga e os restantes 80% terão origem directa em terra.


No entanto, o dilema sobre o plástico não termina na poluição em si. A verdade é que estes compostos sintéticos entram inevitavelmente na cadeia alimentar marinha, quer seja pela ingestão directa por parte de organismos superiores como mamíferos marinhos, quelónios (tartarugas marinhas) ou peixes, quer através de partículas pequenas (por vezes minúsculas) que integram a cadeia alimentar mais básica (zooplâncton e fitoplâncton). A consequência é óbvia, não só para aqueles organismos que nos habituamos a ver nos documentários da caixinha colorida, como também para nós, portugueses, que nos orgulhamos de sermos um povo que consome muito e bom (?) peixe.



Para mim, esta realidade é verdadeiramente assustadora. A solução, mais do que a separação doméstica (algo que faço e continuarei a fazer), passa pela redução, sempre que possível, do consumo de artigos que contenham plásticos, seja nos seus constituintes ou nas suas embalagens. O princípio é sabido: sem hábitos de consumo, não haverá hábitos de oferta.

Sacos, embalagens, caixas, cotonetes, canetas, escovas de dentes, entre outros… quantos objectos de plástico usou e descartou durante a passada semana?


Artigo de Pedro Correia, educador ambiental
Publicado por Departamento Educacional do Zoomarine em 24-04-08

site: zoomarine.blogdrive.com/

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