terça-feira, 3 de junho de 2008

Gene de Pirilampo ilumina outros organismos....


Gene de pirilampo permite "iluminar" outros organismos e assim detectar lesões genéticas - estudo de cientista portuguesa
A introdução de um gene do pirilampo num verme permitiu usar a luminescência adquirida por este organismo para conhecer o seu metabolismo e detectar o efeito de alterações genéticas, num estudo realizado na Escócia por uma cientista portuguesa.

"O que eu fiz foi colocar o gene de um pirilampo americano num organismo modelo da biologia, o nemátode Caenorhabditis elegans, que assim se tornou capaz de utilizar um substrato, a luciferina, para emitir luz à custa das suas reservas de energia", disse Cristina Lagido à agência Lusa.

"Assim, medindo a luz emitida com um instrumento chamado luminómetro é possível ter uma ideia das reservas energéticas do organismo" - acrescentou.
Outra conclusão do estudo, publicado na revista britânica BMC Physiology, foi que é possível utilizar a luminescência para detectar o efeito de determinadas lesões genéticas.
Cristina Lagido, que trabalhou nesta investigação com colegas da Universidade de Aberdeen, na Escócia, utilizou a técnica de inactivação selectiva de genes conhecida por ARN de interferência (ARNi), cuja descoberta por Andrew Z. Fire e Craig C. Mello (norte-americano de origem portuguesa) lhes mereceu o Prémio Nobel da Medicina de 2006.
"Com esta técnica silenciei genes que são importantes para a respiração celular e, como seria de esperar, obtive uma redução drástica dos níveis de luz", explicou, referindo que o objectivo inicial da equipa, e que continua a ser uma das suas linhas de investigação, era a utilização do nemátode como bio-sensor de poluição ambiental, por esse nível diminuir quando o animal é exposto a poluentes.
Outra linha de investigação proposta por Cristina Lagido, e para a qual a equipa procura obter financiamento, é a aplicação deste bio-sensor em estudos de genética para tentar averiguar quais os genes do nemátode que desempenham um papel em termos de tolerância ao stress ambiental.
"Se o nível de luz aumentar, isso significa que os nemátodes se tornaram mais resistentes e, se diminuir, que se tornaram mais sensíveis", afirmou.
A vantagem da utilização da luminescência como indicador de saúde é, para a investigadora portuguesa, a rapidez das medições quando comparadas com a observação microscópica detalhada.
O C. elegans foi o primeiro animal a ter o seu genoma sequenciado e é considerado um excelente modelo para investigação genética com relevância para os seres humanos.
"Apesar das aparências", diz a cientista, "há bastantes semelhanças a nível genético entre os humanos e este nemátode, como é evidenciado por 40 a 60 por cento dos genes responsáveis por doenças em humanos serem semelhantes a genes do nemátode".
Como exemplo, Cristina Lagido apontou os genes que estão na base da aquisição da doença de Alzheimer, que foram descobertos primeiro em C. elegans, em 1993, dois anos antes da sua descoberta na espécie humana.
"Desta forma é possível que aquilo que se descobrir sobre a função de genes utilizando o nemátode luminescente venha a ter aplicações úteis", salientou.
Cristina Lagido trabalhou nesta investigação com o geneticista Jonathan Pettitt, cuja área principal de investigação é a Biologia do Desenvolvimento, com Anne Glover, que trabalha há vários anos na produção de bio-sensores microbianos que utilizam a bioluminescência para monitorização ambiental, e ainda com a técnica de investigação Aileen Flett.
Doutorada em Microbiologia pela Universidade de Aberdeen (1997), depois de se ter licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade de Lisboa (1992), a carreira de Cristina Lagido como investigadora tem-se centrado no estudo das respostas dos organismos ao seu meio ambiente através de uma abordagem multidisciplinar que junta biologia molecular, genética, microbiologia, toxicologia, biotecnologia e análise estatística.

Fonte da notícia: CienciaHoje.PT

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