sexta-feira, 11 de março de 2011

Ave do Ano 2011 - A Cagarra, um barómetro do nosso mar

O cagarro distingue-se pelo seu bico amarelo, dorso acastanhado e ventre branco. O seu chamamento é muito característico e está na origem do nome que lhe foi atribuído, podendo ser escutado durante a noite, quando regressam aos seus ninhos.


As cagarras podem viver em média 50 anos. Entre os cinco a oito anos de vida regressam a terra apenas para nidificar no mesmo local onde nasceram, passando, assim, praticamente toda a sua vida no mar. Esta espécie alimenta-se essencialmente de peixes, cefalópodes e crustáceos.
O cagarro - Calonectris diomedea borealis (Crédito: Francisco Botelho em Olhares.com)

Tem um som inconfundível e está de volta às zonas costeiras, principalmente dos Açores e Madeira. O cagarro, também conhecido como pardela-de-bico-amarelo ou cagarra, foi escolhido como a Ave do Ano 2011, em Portugal, pelos sócios da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) – um sinal da sua importância e representatividade do estado dos nossos ecossistemas marinhos.

Ao nível da União Europeia, “as aves marinhas já estavam em foco há muito tempo por serem o grupo mais ameaçado do mundo”, segundo explicou, ao «Ciência Hoje», Pedro Geraldes, biólogo da SPEA e coordenador do projecto LIFE+, justificando a escolha da organização.

Esta é uma das poucas aves que nidifica no Continente, Açores e Madeira. Regressa nesta época do ano aos territórios de reprodução, depois de uma longa viagem pelo Atlântico Sul. O cagarro é uma ave marinha pelágica, ou seja, apenas vem a terra para nidificar, sobretudo em ilhas e ilhéus. Para tal, o seu habitat preferido são áreas de inclinação muito pronunciada com vegetação rasteira, em zonas de falésia fragmentada e de solo ligeiro, segundo um estudo apurado pela investigadora Eva Immler, mestranda da Universidade de Ciências Aplicadas Van Hall Larenstein.

O grande problema que envolve esta espécie é a perda do seu habitat de nidificação, devido à “interacção com actos de pesca, à passagem de predadores, como ratos ou gatos e até formigas ”, sustentou ainda o biólogo, acrescentando que “as aves mais pequenas e jovens não conseguem resistir”. Nas ilhas dos Açores e da Madeira, as luzes das zonas urbanas interferem igualmente causando o encadeamento das aves juvenis nos seus primeiros voos, sendo comum observá-las caídas. Muitas destas morrem, vítimas de atropelamento ou de predadores, quando não são socorridas.

A SPEA, através de actividades, trabalha activamente para promover a sua conservação. No âmbito do projecto LIFE+ «Ilhas Santuário para as aves marinhas» – uma parceria da Secretaria Regional do Ambiente e do Mar dos Açores, da Câmara Municipal do Corvo e da Royal Society for the Protection of Birds (RSPB) –, por exemplo, realiza desde 2009 uma série de acções destinadas a melhorar o habitat de nidificação desta e de outras espécies de aves marinhas na Ilha do Corvo e no Ilhéu de Vila Franca do Campo, na Ilha de São Miguel. A associação científica tem recorrido ao uso de ninhos artificiais para incentivar a cagarra a regressar ao seu habitat.

“Os mais de 150 ninhos artificiais colocados até à data são importantes para conseguir ter novas populações desta ave em zonas onde já nidificaram, mas foram abandonadas devido à predação dos seus ovos ou juvenis por mamíferos introduzidos pelo homem nas ilhas, como os ratos ou os gatos”, referiu o coordenador do projecto. Para além da avaliação de potenciais ameaças para a nidificação, outras das medidas são “a tentativa de erradicação de predadores” e de “plantas exóticas invasoras”, substituindo-as por plantas endémicas .

Estas aves, com estatuto Vulnerável segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, têm um chamamento peculiar e estridente, apenas possível de escutar nos Arquipélagos dos Açores – onde tem 65 por cento da sua população mundial –, Madeira e Berlengas. No entanto, também é possível ver esta ave de passagem ao longo da costa continental.

Pedro Geraldes salienta que esta pardela pode andar durante meses em migração e “em 20 dias conseguem fazer três a quatro mil quilómetros” – o que significa que "acaba por alimentar-se em locais fora da nossa Zona Económica Exclusiva" e, por isso, “o alerta [para a conservação desta espécie] deve passar as fronteiras”.

Este ano, para além dos ninhos artificiais instalados na Ilha do Corvo terem sido alvo de melhoramentos significativos, o esforço conjunto de uma equipa de investigadores internacionais tem trazido à mais pequena ilha dos Açores as mais recentes tecnologias que permitam atrair novos indivíduos para as recém-criadas áreas de nidificação para esta e outras espécies.

Noticia retirada de cienciahoje.pt.

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