quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Turbinas eólicas causam hemorragia em morcegos


Embora seja considerada uma das fontes de energia mais “ecologicamente” limpa, as turbinas responsáveis pela geração da energia eólica representam um grande risco a animais voadores, como aves e morcegos. Os morcegos estão ameaçados por turbinas eólicas porque a rotação de suas lâminas produz uma alteração na pressão do ar que pode matar os animais, de acordo com cientistas canadenses.

Os cientistas analisaram os corpos de morcegos encontrados mortos em uma área de postes para a produção de energia eólica, e concluíram que a maioria deles tinha ferimentos internos - hemorragias - consistentes com a mudança repentina na pressão do ar.
Os morcegos possuem mecanismos internos para evitar choques com as lâminas mas não conseguem detectar mudanças de pressão repentinas em torno da turbina.
Segundo os cientistas, os postes com as turbinas são mais problemáticos para morcegos do que para aves.
"Uma queda na pressão atmosférica junto às lâminas das turbinas eólicas é um perigo indetectável - e potencialmente imprevisível - para morcegos, embora explique apenas parcialmente o grande número de fatalidades entre morcegos nestas estruturas específicas", disse Erin Baerwald, que liderou a equipe de pesquisa na Universidade de Calgary, Canadá. Este cientista investigou a questão no campo eólico em Alberta. “Enquanto apanhávamos carcaças, reparei que um grande número não parecia ter feridas externas”, explicou.

Dos 75 morcegos que dissecou, 69 apresentavam hemorragias internas. “Uma descida na pressão atmosférica ao redor das pás das turbinas é uma ameaça indetectável, e explica o grande número de fatalidades de morcegos”, diz a cientista. A velocidade com que as pás giram faz com que a pressão atmosférica desça. Quando os morcegos se aproximam demais das turbinas, esta diferença de pressão faz rebentar os vasos sanguíneos dos pulmões. Chama-se a esta condição barotrauma.

O artigo de Erin Baerwald é publicado hoje na revista científica Current Biology . O estudo mostra que 90 por cento das fatalidades envolveram hemorragia interna e só metade dos morcegos é que tocaram nas pás. A hemorragia não acontece nas aves porque a estrutura pulmonar é diferente e mais resistente.

Os investigadores portugueses também já detectaram este fenómeno. Uma das primeiras barreiras para se entender a verdadeira proporção do problema é a quantificação. “Os corpos são rapidamente apanhados pelos predadores e é geralmente difícil encontrar os cadáveres dos morcegos”, explica ao PÚBLICO Jorge Palmeirim, biólogo e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Muitas espécies de morcegos portugueses estão bem monitorizadas, principalmente as cavernícolas (as que vivem em grutas). Mas existem outras espécies que não existem dados populacionais nem se conhece a ecologia, o que impossibilita saber o efeito que esta pressão tem. “Estamos a falar de mais um factor de mortalidade que afecta espécies que já por si estavam ameaçadas”, explica o perito em morcegos.

A diminuição de insectos (o alimento dos morcegos), os atropelamentos, as sebes com arame farpado são factores que pressionam estes mamíferos, cuja ecologia não prevê este tipo de pressão. Por ano, os morcegos têm uma cria, o que não chega para responder às altas taxas de mortalidade.

Já existem propostas para lutar contra o problema. Parar as turbinas durante os meses em que os morcegos migram é uma das ideias. “Devia haver capacidade para controlar a actividade das turbinas”, diz Jorge Palmeirim. O biólogo sugere a paragem das turbinas durante as alturas em que existe menos vento, que é quando os morcegos estão mais activos nessas zonas.

Fonte: ecosfera-publico.pt

Sem comentários: