A semana passada fui ver a Exposição Peter kogler, patente no MUSEU COLECÇÃO BERARDO - Centro Cultural de Belém - LISBOA, até 31 MAIO 2009
e saí de lá com o entusiasmo de ter descoberto algo novo.
Atraídos pela gigantesca trama que preenche as paredes da sala onde começa a exposição, os visitantes são convidados a entrar num mundo de signos e de ideogramas dominado por uma transformação infinita de imagens e de espaços digitais. Desenhos gerados por computador, dissipam a identidade e a individualidade do ser humano em retratos anónimos compostos por redes. A formiga e o cérebro são dois temas básicos que unem o simbólico ao orgânico. O labirinto como símbolo de uma sociedade operada em rede pelos media é outro tema central que Kogler interliga com o espaço real em projecções de vídeo e murais extremamente variados. Expondo pela primeira vez em Portugal, Peter Kogler cria uma rede de tubos que vem integrar-se no espaço muito desenhado das salas do Museu Colecção Berardo.
Ao entrar na exposição o visitante é, desde logo, confrontado com um enorme desenho em vinil preto que abruptamente preenche as paredes do museu. A sua forma apesar de abstracta não deixa, por isso, de ser inquietante aos olhos do público que nela tenta vislumbrar um sentido. Para quem conhece a obra de Kogler, facilmente se recorda da sua participação na Documenta X, em 1997, onde o artista revestiu o espaço da Documenta-Halle com um papel de parede cujo motivo era um entrelaçado de tubos. Várias foram as referências atribuídas, na altura, a estes tubos, que lidos como signos de modernidade, traziam à memória fábricas de refinaria, Fernand Léger ou a arquitectura do Centre Pompidou. Tal como estes tubos, também os que vemos na exposição do Museu Berardo são de dimensões e espessuras diferentes e formam um emaranhado tubular, cuja trajectória cria uma ambiguidade na percepção e orientação do visitante. No entanto, são transparentes e revelam o seu interior, em rede. Ora, aqui a rede actua, já não como signo de modernidade, mas como a sua actualização numa era que, não estando de costas viradas para o passado, vê a tecnologia analógica substituída pela digital. Passagem esta, aliás, testemunhada pela imagem digital de um mundo desenhado em rede sobre uma superfície monocromática branca, de 2008, e que nos espreita da sala seguinte.
A exposição apresenta uma série de trabalhos da década de 1980, dos quais se destacam uma instalação, de 1984, e um conjunto de cinco pinturas, de 1986. O primeiro é composto por várias pinturas e desenhos a carvão e guache, sobre cartão, de diferentes dimensões, que integrados num todo formam uma grande composição. Nele habitam elementos figurativos e abstractos, como signos de uma linguagem gráfica, que aparecem e reaparecem pontualmente, tal é o exemplo de uma casa, materializada numa escultura de estrutura modular que completa a instalação.
As cinco pinturas de 1986, com cabeças gráficas desfiguradas sobre fundos vermelhos, adquirem também uma singularidade no conjunto da exposição, pois não só correspondem aos primeiros trabalhos do artista gerados por computador, como introduzem uma nova direcção na sua obra, já que daí para a frente o computador tornou-se uma ferramenta imprescindível para Kogler. A complexidade daquelas formas pictóricas alcançadas apenas com o computador contrastam com o resultado final de simplicidade visual.
Todavia, o uso de imagens isoladas impressas não tem continuidade, pelo que, na transição para os anos noventa, a técnica de serigrafia é redireccionada para povoar superfícies com um motivo que se multiplica em série. Este princípio de repetição mecânica é aplicado nos vários papéis de parede que, dada a sua reversibilidade, tanto cobrem as paredes do museu com fortes padrões, como sobre eles são penduradas pinturas. Mas, apesar do seu aparente efeito decorativo, estamos perante trabalhos que comportam uma dimensão reflexiva. Se, por um lado, a imagem de uma formiga ao ser repetida incessantemente se torna um padrão, por outro, funciona como alegoria de um modelo de organização e ordem sociais que reveste outra ordem, isto é, a da arquitectura do espaço expositivo.
A imagem da formiga volta pois a surgir numa outra instalação de 2007 readaptada para este contexto. Trata-se de uma dupla projecção que nos devolve o percurso de várias formigas. Como as paredes têm um revestimento fotosensível e a projecção é em loop, aquele percurso sobrepõe-se a si mesmo podendo apenas ser interrompido pela acção corporal do visitante que, deste modo, é convidado a interagir directamente com o dispositivo.
Uma animação vídeo computadorizada de 2005 encerra a exposição, mas ao contrário da anterior, esta instalação tenta gerar algum incómodo ao projectar ratos gigantes no chão que se vão acumulando e de um modo ameaçador se aproximam dos pés do visitante. Será que este trabalho tenta então repor a ideia de dispositivo como algo de terrífico? Creio que a estratégia de Peter Kogler e que esta exposição também enfatiza é, aliás, outra que recusa o entusiasmo optimista da técnica, mas que encontra também nela uma potencialidade, a devolução ao uso comum da experiência e da acção.
Fotos retiradas de
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