Ilustração: Marco Vergotti
Possuímos um dos mais avançados instrumentos de análise quimica do mundo: o nosso nariz
É que um nariz pode reconhecer até 6850 cheiros diferentes.
Existem dezenas de milhares de odores – morangos frescos, pão acabado de cozer, café moído, baunilha, anis, canela, chá de menta...", da maresia, da terra molhada pela chuva, de velas, de um prato apetitoso
mas há cheiros que o melhor é nem “vê-los” …
… quero dizer, nem cheirá-los.
É o nosso nariz que através dos odores nos alerta do perigo.
O nariz sempre esteve lá ( nas nossas caras), e só nos demos conta dele num dia de muita gripe, quando a nossa mãe nos apresentou um acessório tão branco quanto inútil: um lenço. Até aí, entretanto, o nariz era algo meio abstrato; percebemos que ele existia concretamente ao descobrimos a função mágica do espelho. provavelmente não gostamos do que vimos. Era algo mostruosamente colado à nossa face, dividindo algo tão belo quanto os olhos. E dissemos: para que serve, afinal? Inutilmente nossos professores tentaram dar-lhe alguma função, tipo impedir que as impurezas viessem a entrar nos brônquios. Depois apareceu o Cyrano de Bergerac, que elevou o nariz a personagem, sem falar no boneco Pinóquio... Enfim, estabelecemos uma relação de amor e ódio com o nosso nariz. Não podemos viver com ele, não podemos viver sem ele. Já imaginaram um rosto sem nariz, como no conto clássico de Gógol? Kovaliev acordou e gritou: "Estou sem nariz!". Concluiu, literalmente na sua carne, que ele era parte indissolúvel de si.
E existem os Inventores de perfumes, os profissionais dos narizes. Por dever de ofício, eles precisam ter os melhores narizes do mundo. Não necessariamente os mais belos, mas bons de cheiro, capazes de distinguir mais de três mil aromas diferentes. Também conseguem combiná-los em uma quantidade ilimitada de fórmulas com química e odor absolutamente singulares. Usam a fantasia e o nariz para criar fragrâncias sedutoras, que despertem paixão, levantem a auto-estima e acentuem a personalidade.
Tem também aquele verso do Bocage: Nariz, nariz que Milton não quis / descrever a diagonal / nariz de massa infernal / que, se colocado entre o sol e a terra / daria eclipse total!
Quer dizer: entre mortos e feridos, ele nos acompanha, e acompanha a Literatura há quase dois séculos. E se está na Literatura, não é por nada.
Hoje considero que o nariz é um ponto central da beleza. Esta parte central da face geralmente revela a origem étnica da pessoa, e é responsável pela biodiversidade humana.
Estranho é muitas vezes que devido a uma suposta busca da perfeição ínumeras pessoas transformam os seus narizes para a forma tão sonhada, eliminando as supostas imperfeições nasais.
O nariz é constituído pelas fossas nasais e pela pirâmide nasal. A pirâmide nasal é a estrutura visível que forma proeminência na face. Dentro do nariz existem pequenas estruturas, os cílios, que são cobertas por um líquido pegajoso, o muco. As partículas de poeira e microrganismos do ar ficam presas nesse muco e com o movimento dos cílios são varridos para fora do corpo ou para a garganta, e se forem engolidos serão digeridos pelas enzimas produzidas ao longo do tubo digestivo(azar o deles). O nariz juntamente com as vias respiratórias desempenham a importante função da ventilação pulmonar que irá permitir a oxigenação do sangue.
O nariz humano tem cerca de 10 milhões de células sensoriais olfativas (quimiorreceptores) no epitélio olfactivo( centro da sensação olfactiva), são elas que capturam as moléculas odoríferas(2)emitidas por substâncias odoríferas. Estas ao entrarem em contacto com o ar das fossas nasais, dissolvem-se no líquido que recobre o epitélio e excitam os cílios das células sensoriais olfactivas. Gera-se, então, um fluxo nervoso que é transmitido directamente ao bulbo olfactivo passando aos centros do olfacto situados no cortex cerebral, onde são percebidos os odores (3). O olfato(1) permite sentir vários tipos de cheiros, bom seria se apenas os bons, mas se bem que, sem os maus não conseguiríamos distinguir um e outro.
Ok, e por que estou falando do nariz?
Porque o meu nariz desde há muito tempo que não fazia a sua função respiratória correctamente. As razões prendiam-se com um desvio do septo nasal e a obstrucção dos orifícios de drenagem dos seios perinasais. Esta situação era acompanhada de dores de cabeça, perda de olfacto e do apetite. Para resolver o problema fiz uma microcirurgia endonasal. Estou em recuperação (pós-operatório) e já consigo inspirar o tão precioso oxigénio. E o olfacto, misterioso e precioso sentido regressou de novo.