Os biólogos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), Luís Crespo e Jorge Paiva, descobriram duas novas espécies de aranhas no Jardim Botânico de Coimbra chamadas de Tegenaria barrientosi e Parapelecopsis conimbricensis.
Luis Crespo e Jorge Paiva no Jardim Botânico de Coimbra
A Tegenaria barrientosi entrou-lhe, literalmente, pela casa dentro. Luís Crespo estava a viver perto do Jardim Botânico, em Coimbra, e reconheceu a pequena aranha que lhe entrou em casa. “Em vez de acabar esmagada por uma vassoura, acabou num tubinho para ser analisada”, conta. E agora é uma nova espécie descrita num artigo publicado (no mês passado) na revista de zoologia Zootaxa.
As aranhas são normalmente consideradas seres repelentes, mas que assumem um papel muito importante no equilíbrio dos ecossistemas. “Como predadores de topo, as aranhas são excelentes bioindicadores.
Numa outra vertente, as aranhas produzem toxinas que podem ser usadas para o desenvolvimento de fármacos”, explica o biólogo da FCTUC. As teias de aranha, devido ao seu riquíssimo complexo proteico, produzem a seda natural com a melhor qualidade do mundo. Segundo Luís Crespo, com a descrição destas novas espécies está “aberto o caminho para novos estudos sobre a evolução da espécie e a sua utilidade para o Homem”. O biólogo prepara-se agora para estudar as aranhas das ilhas Selvagens e de Porto Santo.
“A biodiversidade é mal conhecida em Portugal e revela o valor patrimonial biológico do jardim botânico, um Jardim como uma enorme biodiversidade vegetal e animal, algumas delas raras e protegidas, como por exemplo, o mocho-real ou bufo-real (Bubo bubo), o maior mocho da Europa”, salientou Jorge Paiva, biólogo da FCTUC.
O jardim botânico é “um laboratório natural riquíssimo, que é necessário explorar, cuidar e preservar pela comunidade científica”, acrescenta Paiva. Colhidas em 2004, as novas espécies começaram a ser estudas um ano depois, com a colaboração da Universidade de Basel. Um trabalho complexo e moroso que implicou, ainda, a comparação com outras espécies existentes já descritas e registadas no World Spider Catalogue, uma base de dados providenciada pelo Museu de História Natural de Nova Iorque, onde constam todas as espécies existentes no mundo. De acordo com o World Spider Catalogue, existem 40 mil e 700 espécies. “Mas as estimativas apontam para que existam mais de 170 mil”. No catálogo das espécies existentes em Portugal (http://www.ennor.org/ ), o biólogo Pedro Cardoso contabiliza 779 espécies. Mas, nota Luís Crespo, “se juntarmos as espécies que foram recentemente publicadas e as que estão submetidas a contagem o número sobe para 819 espécies, sendo que certamente haverá mais para descobrir”.
Foto de Tegenaria barrientosi que mede cerca de sete milímetros tirada daqui
Os primeiros exemplares de Tegenaria barrientosi e a Parapelecopsis conimbricensis foram colhidos no Jardim Botânico de Coimbra mas Luís Crespo encontrou mais noutros locais. A Parapelecopsis conimbricensis que é descrita num artigo que aguarda publicação foi colhida também na Reserva Natural do Paúl de Arzila, por exemplo, e no mesmo trabalho o biólogo apresenta-nos outras seis novas espécies para a Ciência encontradas no norte de Portugal e Espanha, no Parque Natural do Douro Internacional, no Parque Florestal de Monsanto (Lisboa) e noutros locais dispersos do país.
A Tegenaria barrientosi e a Parapelecopsis conimbricensis são de famílias bem diferentes, diz Luis Crespo. “A nível filogenético... São primos afastados”, simplifica. Estas aranhas não são toxicologicamente perigosas para o homem. Aliás, a maior parte não é”, informa o biólogo. Além de inofensivas, as espécies que vivem no Jardim Biológico de Coimbra são pequeninas. A Parapelecopsis conimbricensis mede uns dois a três milímetros de corpo e a Tegenaria barrientosi cerca de sete. Entusiasmado, o especialista conta que para conseguir identificar um nova espécie é preciso uma trabalho rigoroso de análise de uma série de pormenores, a estrutura reprodutora, os olhos, as cores, o tamanho. No caso da Parapelecopsis conimbricensis há uma característica que merece destaque: “Os machos têm uma espécie de elevação na cabeça, que é uma espécie de torre com alguns olhos, onde existem dos sulcos que julgamos que são os locais onde a fêmea se prende quando acasalam”. Os estudos do comportamento virão mais tarde confirmar ou não a teoria, mas Luís Crespo não consegue esconder o ânimo com a descoberta. Algumas destas descobertas, como nos contou, entram-lhe pela casa dentro. Outras dão-lhe mais trabalho e ele tem de montar armadilhas para as conseguir. E há aranhas de estimação na casa de Luís Crespo? “Vivas? Não, não concordo. Só tenho uma aranha viva em casa quando preciso de a criar até adulta para os meus trabalhos. De resto, tenho uma colecção de exemplares em casa... alguns milhares. Mas estão em tubinhos conservadas em álcool.
Fontes da notícia: Cienciahoje e Público.pt
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