Nemo, o peixe-palhaço, está mais perdido do que nunca, graças às mudanças climáticas.
A acidificação dos oceanos está a provocar perda dos sentidos e desorientação no peixe-palhaço...pobre Nemo já não consegue ouvir os predadores...
O aumento da acidez dos oceanos causada pelo aquecimento global está destruindo o olfato e habilidades de navegação dos pequenos peixes cor-de-laranja do famoso filme "Procurando Nemo", deixando a espécie mais perto da extinção, informou um novo relatório.
Quem não se lembra de "À Procura de Nemo", o filme de animação sobre o pequeno peixe palhaço que perdeu o pai e vive tantas aventuras para encontrá-lo. Talvez tenha rido junto com o seu filho ao ver o filme e talvez até mesmo tenha gostado mais dessa animação, do que ele. Mas hoje vamos ver algo sobre este pequeno peixe, que não é tão engraçado.assim.
O Amphiprion percula, ou peixe anémona mais conhecido como peixe palhaço é um peixe de cor alaranjada e brilhante com riscas bem distintas de cor branca. Chegam a atingir aproximadamente uns 11 cm de comprimento. Constroem os seus ninhos nas anémonas onde passam quase toda a sua vida. Os dois estabelecem uma relação simbiótica perfeita: a anémona protege o peixe palhaço de depredadores e outros perigos, enquanto que o peixe palhaço por sua vez come os parasitas mantendo- a limpa.
São conhecidas cerca de 28 espécies de peixe palhaço, a maioria das quais vive nas águas profundas do oceano indico, mar vermelho e no oceano atlântico. Uma curiosidade surpreendente destes peixes é que nascem machos, apenas alguns se convertem em fêmeas para dominar um grupo, mudança esta que se torna irreversível.
O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM ESTE PEIXINHO?
O aumento do nível de dióxido de carbono na água do mar prejudica o sistema nervoso dos peixes. Os animais expostos a altos níveis da substância relacionada ao aquecimento global ouvem mal, sentem menos os cheiros característicos de predadores e abrigos e se cansam mais. Segundo os autores da pesquisa, a presença cada vez maior de CO2 nas águas marinhas é uma ameaça direta — e ainda não totalmente conhecida — à vida.
A pesquisa foi feita pelo cientista Philip Munday do
'Centre of Excellence for Coral Reef Studies ARC' e da
Universidad James Cook de Australia, com exemplares de peixe-palhaço e peixe-donzela, espécies que vivem próximas a recifes, na água do mar com altos níveis de dióxido de carbono dissolvido há vários anos. "A pesquisa que já está sendo realizada à vários anos mostra claramente que eles sofrem uma alteração significativa no seu sistema nervoso central, podendo prejudicar as suas hipóteses de sobrevivência", afirmou Munday, que publicou a descoberta na revista
Nature Climate Change.
Os oceanos absorvem cada ano cerca de 2.300 milhões de toneladas de CO2 produzidas pelo homem, quantidade esta que produz uma acidificação no mar.
Os filhotes dos peixes, afirmam os cientistas, são os mais afetados pelos altos níveis de dióxido de carbono. Mas os predadores desses filhotes também apresentaram mudanças no comportamento quando expostos a níveis elevados de CO2. "Nosso trabalho demonstrou que o sentido do olfato foi afetado pela presença de mais CO2 na água, o que significa que eles tiveram mais dificuldade de localizar um coral para se abrigar ou detectar o odor de alerta de um peixe predador", disse Munday.
A audição é outro dos sentidos afetado. "Eles ficaram confusos e deixaram de evitar os sons dos corais durante o dia. Ser atraído pelos corais à luz do dia os torna presas fáceis para os predadores", afirma o investigador.
Até a capacidade de navegação no ambiente aquático, como as curvas para esquerda ou direita, foram prejudicados nas cobaias expostas a água com muito CO2. "Isto nos levou a suspeitar que o que estava acontecendo não era simplesmente um dano aos sentidos individuais, mas que níveis mais altos de dióxido de carbono estavam afetando o sistema nervoso central dos peixes como um todo", avalia Munday.
A causa da mudança de comportamento nos peixes, segundo os cientistas, está num receptor chamado GABA-A localizado nos seus cérebros. Esse receptor é extremamente sensível ao CO2. A maioria de animais com cérebros têm receptores GABA-A, mas animais que vivem na água são mais sensíveis a variações de CO2 porque o seu sangue tem níveis baixos da substância.
Para os cientistas, se o CO2 continuar a ser emitido na mesma quantidade, até o fim deste século as consequências para a vida marinha podem ser desastrosas, com extinções em massa de centenas de espécies.