quinta-feira, 20 de maio de 2010

Mosquinha do vinagre diz-nos como o cérebro decide o que comer.

Mosquinhas do vinagre com a barriga azul, depois de terem ingerido comida rica em proteína (DR)
A escolha dos alimentos indicados para uma alimentação equilibrada é uma preocupação comum a todos os seres vivos – e não só ao Homem.

Mas que alimentos escolher?

Num estudo publicado agora na prestigiada revista científica «Current Biology» (*), Carlos Ribeiro (Investigador Principal no Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud, no Instituto Gulbenkian de Ciência) e Barry J. Dickson (Investigador no Research Institute of Molecular Pathology, Viena, Áustria) identificam pela primeira vez genes e circuitos cerebrais envolvidos neste processo de decisão. O estudo efectuado em Drosophila melanogaster, mosca do vinagre, abre portas para que se compreenda também como outros organismos escolhem as suas fontes de alimento, desde os mosquitos portadores do parasita da malária aos Humanos.

Como é que o cérebro decide qual o tipo de alimento que vai comer? Carlos Ribeiro, um cientista suíço filho de pai português, procurou e encontrou uma resposta nas moscas do vinagre: passou semanas de roda delas, em experiências, até que identificou moléculas envolvidas no processo de decisão sobre a comida ...nos neurónios.
Para descobrir como é que as moscas decidiam o que iam comer, Carlos Ribeiro e Barry Dickson , engendraram uma experiência intelegente, com comida e corantes para as cobaias.

Tingiram com um corante azul a comida enriquecida com proteínas, o que em alimento de moscas significa ter leveduras. A comida sem leveduras foi corada de encarnado. Pela observação da cor das barrigas das moscas, sabiam o que elas tinham comido.
O que mostraram as observações: quando as moscas já tinham a sua dose de proteínas, não aceitavam mais. “Mas se as privarmos de proteínas durante um período (experiência efectuada), acabam por escolher a comida com proteínas”, afirmou Carlos Ribeiro. “E as fêmeas que já acasalaram são mais rápidas a mudar de dieta do que fêmeas virgens.”
Como é que as moscas, em todas as situações, sabem quantas proteínas estavam na dieta ingerida antes? “Sabem porque há um receptor [uma molécula] no cérebro que detecta quantas proteínas estão no corpo.”
E, no caso de uma mosca grávida, existe outro receptor que detecta a presença de uma molécula do esperma dos machos, que diz ao cérebro que ela está grávida e a faz preferir comida com proteínas.
Embora obtidos na famosa mosca do vinagre, um dos organismos favoritos dos cientistas para as experiências, os resultados podem ajudar a compreender como outros seres vivos escolhem os seus alimentos. Mas ainda não se sabe se as mesmas moléculas envolvidas nas escolhas alimentares das moscas estão em acção nos seres humanos. Sabe-se apenas que, nos ratinhos, o mesmo receptor para a detecção de proteínas no organismo controla a quantidade de comida ingerida: “Mas não sabemos se também controla as escolhas.”



“Se pudermos compreender como o sensor actua no cérebro da Drosophila para controlar a vontade de ingerir comida rica em proteínas, talvez se posso modificar também a vontade dos mosquitos fêmeas de ingerir sangue, e, desta forma, interferir com a transferência do parasita da malária entre hospedeiros”.

Para os humanos, este estudo pode vir a revelar-se muito importante para compreender e resolver as inúmeras desordens alimentares e assim melhorar a qualidade de vida do homem.


Este estudo foi financiado pela European Molecular Biology Organisation (EMBO),
National Science Foundation, Fundação Champalimaud e Boehringer Ingelheim GmbH.

Fonte da notícia: http://www.physorg.com/news192973633.html
e Público

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