sábado, 17 de julho de 2010

Mosquitos GM 100% resistentes à malária

Mosquitos GM 100% resistentes à malária


Fêmea do mosquito Anopheles James Gathany/CDC
Cientistas da Universidade de Arizona criaram com sucesso mosquitos geneticamente modificados (GM) que são 100 por cento resistentes ao parasita da malária. O mosquito fica incapaz de infectar seres humanos com malária.

Durante anos, os cientistas têm tentado tornar os mosquitos resistentes ao parasita da malária que transporta um organismo unicelular designado Plasmodium. Mas as tentativas anteriores só conseguiram destruir aproximadamente 97 por cento dos parasitas da malária em corpos de mosquitos. A diferença entre 97 e 100 por cento pode parecer insignificante, mas Michael Riehle, que liderou o novo estudo, diz que 3 por cento representa a diferença entre o sucesso e o fracasso: "Se se pretende parar eficazmente a disseminação do parasita da malária, é necessário conseguir mosquitos 100 por cento resistentes ", afirmou.

No novo estudo, publicado ontem na revista Public Library of Science Pathogens, a equipa de Riehle projectou uma parte de informação genética que se insere no genoma de um mosquito. Quando os investigadores alimentaram os mosquitos geneticamente modificados de sangue infestado pela malária, os parasitas Plasmodium não infectaram um único animal em estudo. E uma vez que a molécula anti-malária é injectada em ovos do mosquito, a próxima geração, em seguida, transporta os genes alterados passando - os para as gerações futuras.

Os cientistas descobriram também que a molécula anti-malária reduz o tempo de vida do mosquito, o que minimiza as hipóteses de que o parasita da malária se desenvolva. Mosquitos selvagens vivem geralmente 2 a 3 semanas, mas o parasita da malária precisa de 12 a 16 dias para se desenvolver no mosquito antes que ele possa ser transmitido às pessoas. "Os mosquitos mais antigos são responsáveis pela maior parte da transmissão da malária, assim, ao reduzir a vida do mosquito pode-se reduzir ou eliminar o número de pessoas que o mosquito pode infectar", disse o líder da equipa Riehle.

O parasita da malária é transportado pela fêmea do mosquito Anopheles. Quando transmitido a um ser humano, o parasita viaja primeiro até ao fígado, onde se instala e, em seguida, para a corrente sanguínea, onde se reproduz e destrói os glóbulos vermelhos do sangue.

Estima-se que cerca de 250 milhões de pessoas contraem malária anualmente, e cerca de um milhão morrem, muitos deles crianças. De momento não existem vacinas eficazes ou aprovadas contra a malária, embora algumas tenham sido testadas. Riehle defende que mesmo que uma vacina fosse desenvolvida, a distribuição seria um grande desafio.

De acordo com Riehle, para erradicar completamente o parasita da malária transmitido por mosquitos requer três coisas: a capacidade de projectar o mosquito, encontrar genes ou moléculas que podem destruir o parasita da malária, e dar aos mosquitos modificados uma vantagem competitiva para que eles possam substituir a população selvagem.
Os dois primeiros componentes têm sido conseguidos, mas segundo Riehle o terceiro representa um grande obstáculo - "Muita investigação está sendo feita agora para dar vantagens adaptativas aos mosquitos, para que possam substituir as populações selvagens," disse. "Mas provavelmente estamos pelo menos afastados uma década, e se esta for realmente utilizada para controlar a malária vai demorar vários anos para a reposição da população selvagem actual" salientou.

De acordo com Riehle o bloqueio completo do parasita da malária é essencial para qualquer estratégia de controlo de futuro.
Os mosquitos geneticamente modificados estão num ambiente de laboratório seguro de modo a garantir que não vão escapar. Quando os investigadores encontrarem uma forma de substituir as populações de mosquitos selvagens pelas de mosquitos geneticamente modificados, os genes alterados vão espalhar-se pela população natural. Se a abordagem for bem-sucedida, em última análise, a malária poderá ser uma doença do passado.

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Referência: Corby-Harris et al. Activation of Akt Signaling Reduces the Prevalence and Intensity of Malaria Parasite Infection and Lifespan in Anopheles stephensi Mosquitoes. Public Library of Science (PLoS) Pathogens, July 2010 issue:www.plospathogens.org

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